Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 20 de dezembro de 2006.
Há quatro semanas os trabalhadores da Volkswagen da
planta de Forest, em Bruxelas, entraram em greve e ocuparam a
fábrica para protestar contra a decisão da diretoria
de transferir a produção do modelo Golf de Bruxelas
para fábricas na Alemanha. Porém, as ações
dos trabalhadores não foram suficientes para superar a
traição dos dirigentes dos sindicatos e impedir
que a companhia realizasse seus planos.
Enquanto telegramas expressando solidariedade se acumulavam
na fábrica de Forest, os dirigentes dos conselhos de trabalhadores
e dos sindicatos levavam a greve dos trabalhadores da Bélgica
ao isolamento.
Nenhuma atitude visando uma ação efetiva de solidariedade
foi tomada nas seis grandes fábricas da Volkswagen da Alemanha.
O Conselho europeu dos trabalhadores da Volkswagen fez tudo o
que pôde para transformar qualquer manifestação
de solidariedade num mero protesto simbólico, e para evitar
que se desenvolvesse uma união baseada na defesa de todos
os empregos.
Numa reunião dos conselhos de trabalhadores de várias
plantas da Volks na Europa, realizada no dia 7 de dezembro, não
foi feito nenhum esforço para defender os empregos. Apesar
disso, o presidente do conselho de trabalhadores da Alemanha e
europeu, Bernd Osterloh, fez um discurso demagógico declarando
que se o comitê executivo da companhia não mudasse
sua posição a favor de nossos colegas... Nós
começaremos a pensar em formas concretas de solidariedade.
Não no papel, mas através da genuína mobilização
física.
Apesar do conselho dos trabalhadores e sua co-diretoria do
comitê econômico da companhia estarem completamente
a par dos planos da companhia, Osterloh reivindicou que os administradores
da companhia expusessem seus planos de reestruturação
para outras localidades do oeste europeu.
Quem Osterloh estava querendo enganar? Todos sabem que os conselhos
de trabalhadores foram comprados pela diretoria da Volks e que
muitas medidas de racionalização foram concebidas
em estreita cooperação com os conselhos ou mesmo
iniciadas pelos próprios conselhos.
Com a ajuda dada pelo conselho, a diretoria da Volks se sentiu
fortalecida para atacar os trabalhadores de Bruxelas.
Na última semana, a direção da Volks anunciou
seu novo plano de produção, que consiste na permanência
de apenas 2.000 dos 5.370 trabalhadores da planta de Forest. Em
2009, a Volkswagen planeja construir seu novo modelo, o Audi A1,
em Bruxelas, estimando uma força de trabalho de 3.000 homens.
Entretanto, de acordo com Norbert Steingräber, que falou
em nome da direção de Bruxelas, essa decisão
está condicionada à viabilidade da produção
do modelo Audi em Bruxelas.
No dia 18 de dezembro, no meio das negociações
com o conselho de trabalhadores, o diretor administrativo, Jos
Kayaeerts, declarou que a condição mais importante
para a produção do Audi era a diminuição
do custo da hora de trabalho. O Primeiro Ministro belga, Guy Verhofstadt,
também procurou pressionar os trabalhadores da Volkswagen
em Forest, advertindo-os na televisão de que eles deveriam
ter aceito o aumento das horas de trabalho e a redução
dos salários.
O novo plano de produção visa a expansão
da produção do modelo Pólo em Forest para
o próximo ano com uma força de trabalho de não
mais do que 2.000 homens. Estes trabalhadores deverão trabalhar
38 horas por semana, ao invés das atuais 35 horas. Nenhum
pagamento será feito pelas três horas extras de trabalho.
Há promessas vagas de que não haverá mais
demissões, e que caso seja necessário, os trabalhadores
serão encaminhados para cursos de treinamento e colocados
em trabalhos de curto período até 2009, quando seus
serviços poderão ser necessários novamente.
Porém, até agora, nenhuma decisão concreta
foi tomada.
É bem provável que a expectativa da diretoria
seja que daqui a dois anos, quando o modelo Audi A1 começar
a ser produzido, só restem operários não
sindicalizados e de baixo nível salarial. O que é
certo é que mais de 2.000 trabalhadores perderão
imediatamente seus empregos.
A expansão da produção do Pólo
em Bruxelas também ameaça os trabalhadores da Volkswagen
em outras localidades onde o Polo é montado atualmente,
tais como Pamplona e Martorelli, na Espanha, e Bratislava, na
Eslováquia. O novo plano visa o aumento na produção
do Polo em Bruxelas de 10.000 unidades para 46.000.
Na segunda-feira (18/12), o presidente do conselho de trabalhadores
de Bruxelas, Jan Van Der Poorten, afirmou que as negociações
deveriam continuar, pois ainda não havia uma perspectiva
concreta de produção. Entretanto, ele declarou à
imprensa belga que esperava por uma simbólica retomada
do trabalho na próxima semana.
É evidente que os sindicatos e o conselho de trabalhadores
já aceitaram os planos para a eliminação
de empregos, e estão prontos para assinar o acordo. Isto
foi confirmado por Manuel Castro, do Sindicato Industrial Belga
FTGB, que exigia melhores garantias para as demissões,
como pensões e o retorno ao trabalho em 2007-2008.
Buscando resolver o impasse, o conselho de trabalhadores e
a direção da Volks fecharam um acordo, prevendo
compensações relativamente altas para aqueles trabalhadores
que aderirem ao programa de demissão voluntária.
Os pagamentos compensatórios variam de 25.000 euros a 144.000
euros, dependendo do tempo de trabalho na fábrica - um
acordo que visa estimular a demissão dos trabalhadores
mais antigos. A diretoria da Volks considera que estas compensações
expressam a atitude de um empregador responsável.
Mais de 1.500 trabalhadores anunciaram sua intenção
de pedir demissão imediatamente, enquanto ainda há
vagas no programa - um número que por si só expressa
a falta de confiança dos trabalhadores nos sindicatos e
no conselho de trabalhadores. Não há mais nenhuma
expectativa que os sindicatos façam algo real para defender
os empregos.
O que estimulou a desconfiança dos trabalhadores foram
os escândalos de corrupção envolvendo membros
do conselho de trabalhadores da Volks de Wolfsburg, na Alemanha.
As denúncias se aprofundaram, incluindo recentemente pessoas
como o antigo diretor administrativo do conselho de trabalhadores,
Hans Jürgen Uhl, que foi um dos fundadores do Conselho Europeu
dos trabalhadores da Volkswagen e deputado pelo Partido Social
Democrata no parlamento Alemão. Uhl parece ser um dos principais
beneficiários dos privilégios e dos pagamentos extraordinários
feitos pela direção da Volkswagen a vários
dirigentes sindicais.
Na sexta-feira (15/12), repórteres do World Socialist
Web Site entrevistaram os trabalhadores da Volks em Wolfsburg
durante a troca de turnos, perguntando sua opinião sobre
o fato do conselho de trabalhadores concordar em transferir a
produção do modelo Golf de Bruxelas para a Alemanha.
Bernd, um operário que trabalha há 26 anos em
Wolfsburg, disse: todos os contratos que contém a
assinatura do conselho de trabalhadores devem ser cancelados.
Desde o caso de Volkert (dirigente do conselho de trabalhadores
que responde a processos por corrupção), nós
sabemos que eles podem ser comprados. Por isso, os contratos que
eles assinaram não valem nada.
E agora, em Bruxelas, eles querem costurar tudo, pois
eles sabem o que está acontecendo com os trabalhadores.
Os ânimos estão se acirrando. Obviamente o sindicato
não nos representa mais. Qual é o sentido de continuar
pagando imposto ao sindicato?
Gisela foi motorista de caminhão de carga por 10 anos.
Ela falou da degeneração das condições
de trabalho na fábrica de Wolfsburg. De acordo com o novo
contrato, os trabalhadores deverão trabalhar 4,5 horas
a mais por semana, recebendo 50% a menos das horas-extras trabalhadas.
Nós não recebemos mais pagamento de horas-extras.
Nós trabalhamos todas as sextas-feiras por nada,
disse ela. Sob tais condições, ninguém
tem estímulo para trabalhar. Eu faço apenas o trabalho
que sou obrigada a fazer.
Quando perguntada sobre os membros do conselho de trabalhadores,
ela disse: não se pode confiar neles. Eles não
estão nenhum pouco preocupados conosco.
Outro trabalhador complementou: quem pode acreditar que
Osterloh não sabia de nada sobre o que Volkert fazia? Afinal
de contas, ele era seu vice. Ou ele é um estúpido
completo ou ele está mentindo.
Karin relatou que vários representantes dos comitês
locais ligados ao conselho de trabalhadores renunciaram aos seus
cargos porque não conseguiam mais justificar as decisões
que contrariavam os interesses dos trabalhadores. Os representantes
renunciaram um após o outro, disse ela.
É muito difícil encontrar algum membro
do conselho de trabalhadores. Quando alguém os vê,
eles estão dirigindo por aí, num dos carros da companhia.
Isto diz tudo. Aos meus olhos eles não são representantes
dos trabalhadores.
Karin disse ainda que o trabalho mudou completamente. Trabalhadores
estáveis foram demitidos, e o humor na fábrica chegou
ao mínimo possível.
Karl também expressou sua falta de confiança
no conselho de trabalhadores. Klaus Volkert foi quem nos
levou a perder completamente a confiança no conselho. Hoje
não confiamos em nenhum deles, disse Karl.
Em quem se pode confiar? É visível que
hoje se tornou prática comum no sindicato pensar só
em si mesmo. Não há mais compromisso social.
Karl trabalha na Volks de Wolfsburg desde 2002, num regime
de trabalho baseado no contrato 5.000 marcam 5.000
que deu emprego para 5.000 novos trabalhadores sob piores condições
e menores salários. Ele disse que desde então
nós temos sido apunhalados por contínuos cortes...
O ambiente de trabalho tem piorado e a tensão na fábrica
aumentado.