Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia28 de março de 2007.
Fábricas de automóveis americanas estão
recompensando seus executivos com polpudos pagamentos, após
um ano de enormes cortes e ataques aos salários, condições
de trabalho e benefícios dos trabalhadores do setor. De
forma particularmente provocativa, os pacotes de milhões
de dólares foram anunciados apenas alguns dias antes do
Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística
(United Auto Workers -UAW) ter aberto negociações
em Detroit para discutir o contrato a ser firmado com as Três
Grandes fabricantes, que impõem uma redução
sem precedentes nos salários, benefícios e condições
de trabalho aos representados pelo UAW.
A General Motors premiará o chefe executivo, Rick Wagoner,
e outros altos executivos com bônus, apesar do fato da companhia
ter perdido 12,4 bilhões de dólares nos últimos
anos e ter demitido 30.000 trabalhadores da produção
nesse período. De acordo com um documento da Comissão
de Segurança e de Trocas, Wagoner tem um estoque de ações
restritas avaliado em 2,8 milhões de dólares e ainda
500.000 ações opcionais que somam 1,4 milhão
de dólares.
O vice-presidente da GM, Bob Lutz, chefe mundial das operações
de produção da GM, ficou com 60.000 ações
restritas e 250.000 opcionais. O chefe financeiro, Frederick Henderson,
recebeu 60.000 ações restritas somando 1,8 milhões
de dólares e 250.000 opcionais. Ao todo, 18 executivos
receberam prêmios em ações. Detalhes completos
dos bônus não serão revelados até o
próximo mês.
No início dessa semana, o Grupo Chrysler anunciou que
1.300 executivos de alta colocação receberiam bônus
baseados na performance da companhia em 2006. A Daimler-Chrysler
se recusou a revelar o valor dos pagamentos, mas a US Securities
e a Comissão de Troca divulgaram que o chefe executivo
da Chrysler, Tom LaSorda, recebeu 3 milhões de dólares
em bônus, incluindo um bônus anual de 1,1 milhão
de dólares. Ele ainda recebeu 2 milhões de dólares
com as chamadas ações fantasma que podem ser pagas
em 2010. A soma final do pagamento pode variar, caso certas metas
de lucro sejam alcançadas.
O grupo Chrysler perdeu 1,5 bilhão de dólares
em 2006, divulgou os planos de eliminar 13.000 empregos dentro
dos próximos três anos e diminuir em 400.000 unidades
a produção anual de veículos. Especula-se
que a Daimler-Chrysler venderá sua divisão norte
americana, o que poderia levar ao desmantelamento das operações
que ainda restam.
A Ford, outra das Três Grandes fabricantes de automóveis
dos EUA, anunciou também os bônus aos executivos,
apesar de ter tido uma perda recorde de 12,7 bilhões de
dólares em 2006. A Ford não revelou o total dos
bônus, que ela justifica como sendo uma demonstração
de reconhecimento pelos esforços realizados para reduzir
significativamente os custos. A companhia está
cortando um terço de seus trabalhadores 34.000 empregos
e fechando 16 fábricas. A Ford hipotecou todas as
suas fábricas e equipamentos para levantar fundos e escapar
da bancarrota.
Seguindo a líder das fabricantes de carro, a falida
fabricante de auto-peças Delphi também anunciou
pagamentos aos grandes executivos. Na semana passada o julgamento
do pedido de falência permitiu o pagamento de mais de 37,4
milhões de dólares em bônus aos executivos.
Cerca de 440 executivos estão na fila para receber os bônus,
que no total podem somar entre 20 e 37,4 milhões de dólares,
dependendo da performance isto é, do sucesso no
corte de empregos, salários e benefícios.
Dezessete meses depois do pedido de falência, a Delphi
ainda assinou um acordo com o UAW para continuar os cortes de
salários e benefícios em mais de 60%. A companhia
está planejando eliminar 24.000 dos seus 33.650 trabalhadores
temporários e mais milhares de trabalhadores assalariados
em todos os EUA.
O fato de que os patrões se sintam à vontade
para conceder bônus de forma descarada no momento em que
os trabalhadores estão recebendo ataques históricos
e à véspera da convenção do
UAW indica o futuro colapso dos sindicatos americanos.
O contraste existente entre a reação dos operários
aos pagamentos dos executivos e a do moribundo UAW pode se acirrar
ainda mais.
A notícia dos bônus na Ford gerou uma intensa
e generalizada inquietação entre os trabalhadores,
que devem começar a sofrer pressões em cada fábrica
para aceitar as propostas da empresa. O UAW anunciou o adiamento
da votação em relação às concessões
na assembléia da fábrica da Ford em Wayne, Michigan.
Os dirigentes do sindicato, todavia, negaram que o adiamento fosse
em conseqüência da inquietação em relação
aos bônus, alegando que eles precisavam de mais tempo para
explicar a proposta.
Como era de se esperar, o UAW não precisou de muito
tempo para abafar a revolta, aceitando a oferta da companhia em
dar uma esmola de 500 dólares para cada trabalhador da
produção.
Na solenidade de abertura da convenção de negociação
da UAW, o presidente do sindicato, Ron Gettelfinger, não
disse nada sobre os bônus concedidos aos executivos das
empresas GM, Ford e Chrysler. Ao invés disso, ele falou
apenas sobre os bônus dos executivos da Delphi, que ainda
não tinha assinado um acordo com o UAW.
Para os burocratas privilegiados do aparato do UAW, os enormes
pagamentos aos executivos das empresas automobilísticas
não é uma questão de princípios. Sua
preocupação é que a simultaneidade entre
o espetáculo da recompensa aos executivos e a exigência
de sacrifícios aos trabalhadores dificultará a continuidade
da política de grandes concessões às companhias
automobilísticas levada a cabo pelo UAW.
Os advogados do UAW disseram que o julgamento do pedido de
falência da Delphi e o pagamento de bônus aos seus
chefes eram uma dispersão e um bloqueio
às negociações dos contratos em curso, e
que eles deveriam ser adiados para um período mais conveniente.
O Wall Street Journal reforçou as preocupações
do UAW. Um artigo do dia 23 de março acerca dos bônus
da GM tinha como título: Os Bônus da GM devem
dificultar as negociações trabalhistas. O
artigo observou que a GM exigirá do UAW amplos cortes nas
despesas com saúde, assim que o contrato atual expirar
no próximo mês de setembro.