O Ministério da Justiça revelou que pelo menos
sete jovens entre 18 e 29 anos ingressam no sistema prisional
brasileiro a cada hora. O ritmo de entrada de jovens na prisão
(68.400/ano) é 58% superior ao de saída (43.200
jovens/ano). Isso significa que 187 jovens entram a cada dia nas
prisões, contra 118 que deixam as unidades. Atualmente,
26% dos presos no sistema carcerário brasileiros são
jovens.
A maior parte destes jovens vive em favelas. Pesquisas de várias
instituições indicam que nas grandes metrópoles
brasileiras, 15 a 20% das pessoas moram em favelas (chegando a
mais de 40% em algumas cidades, como Recife). Os dados mostram
também que, se forem considerados não apenas as
favelas, mas todos os cortiços e os loteamentos clandestinos,
cerca de 40% a 50% da população vivem nestas precárias
condições. Além da miséria e das péssimas
condições de moradia, a maioria dos jovens brasileiros
são submetidos à violência urbana num grau
que pode ser comparado à de uma guerra civil. Nesse sentido,
um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas)
calcula que o número de vigilantes no Brasil é 3,5
vezes o contingente das forças armadas nacionais. No entanto,
as medidas repressivas não resolvem o problema. O Brasil
contabiliza cerca de 30 homicídios para cada 100 mil habitantes,
enquanto a média mundial é 5. Mas, afinal, o que
tem feito o governo Lula para resolver esta situação?
O PAC da Segurança do governo Lula
No dia 9 de julho, o ministro da Justiça, Tarso Genro,
apresentou ao presidente Lula o Pronasci (Programa Nacional de
Segurança com Cidadania), conhecido informalmente como
o PAC da Segurança. Segundo o programa, que deverá
ser lançado até o final de agosto, serão
destinados R$ 6,2 bilhões (cerca de US$ 3,35 bilhões)
até 2011 distribuídos em até 99 diferentes
ações previstas no programa. Entre as ações
está o Bolsa-Cidadão, destinado a policiais, agentes
penitenciários e bombeiros, que, caso recebam um salário
de até R$ 1,2 mil e optem por se inscrever no Bolsa-Cidadão,
participarão de um curso de aperfeiçoamento e ganharão
aumento de 25% pago pelo governo federal. A medida visa reduzir
a corrupção entre os agentes de baixa patente. O
Pronasci também prevê obras de urbanização
em favelas, com melhoria na infra-estrutura das comunidades, além
da construção de mais 240 penitenciárias
nas 11 principais regiões metropolitanas do país.
No entanto, nenhuma das medidas atinge a raiz do problema.
Não é o fortalecimento do aparelho repressivo do
Estado, como a construção de novas penitenciárias,
que vai solucionar o problema da violência urbana no Brasil.
Quanto ao salário dos policiais, agentes penitenciários
e bombeiros, é evidente que devem ser reajustados, para,
inclusive, recuperar as enormes perdas salariais que vem se acumulando
por décadas. Mas isso também não vai resolver
o problema da violência.
A urbanização de favelas, por sua vez, torna
permanente um sistema de ocupação do solo urbano
totalmente inadequado, que não preserva as encostas dos
morros e as áreas de nascentes d'água. Esta política
é característica dos governos do PT, que desde a
década de 1980, têm promovido a urbanização
das favelas em todas as grandes cidades administradas por ele.
O PT nunca enfrentou o problema da transformação
do solo urbano em objeto de especulação imobiliária,
situação que serve apenas para enriquecer uma pequena
minoria. O PAC da Segurança a ser implementado pelo governo
Lula será responsável pela generalização
desta situação em escala nacional, deixando intocada
a desigual ocupação de terras urbanas no Brasil.
Mas se o PAC da Segurança propõe apenas medidas
paliativas em relação à violência urbana,
quais seriam, afinal, as raízes desta violência,
que expressa o caráter bárbaro da vida nas metrópoles
brasileiras?
As raízes da violência
A violência urbana é conseqüência inevitável
de uma sociedade na qual 2/3 da população economicamente
ativa (PEA) está desempregada. Parte destas pessoas (10%
da PEA) está procurando emprego que é, aliás,
a única parcela considerada nos cálculos oficiais
da taxa de desemprego. Outra parte (cerca de 55% da PEA) está
tentando sobreviver por meio daquilo que costuma se chamar de
trabalho informal (vendedores ambulantes, diaristas, etc.).
É no desemprego que está a origem de todas as
outras formas de violência. O desemprego é a violência
fundamental, isto é, aquela que está na base, aquela
que funda todas as outras formas de violência. É
ilusão esperar que uma sociedade que não é
capaz de possibilitar que cada um produza dignamente a sua vida
por meio do seu próprio trabalho consiga controlar a violência.
A única forma de criar as condições necessárias
para controlar a violência é dar trabalho a todos.
Isso só é possível repartindo o trabalho
existente entre todos os trabalhadores, mantendo o salário
atual, e abrindo frentes públicas de trabalho.
Sem isso, é impossível falar em controle da violência.
Sem isso, serão desperdiçados milhões de
reais na construção de mais presídios, na
contratação de mais agentes carcerários,
de mais seguranças privados, que serão sempre insuficientes
para atender o número crescente de trabalhadores desperdiçados
pelos altos níveis de desemprego. A absoluta irracionalidade
do capital se expressa numa sucessão de desperdícios
- de trabalhadores, de dinheiro público, de recursos naturais.
Esta irracionalidade só se sustenta por ser cada vez
mais indispensável para a manutenção do luxo
de uma pequena minoria, que no Brasil se resume a 130.000 milionários.
Sua fortuna equivale à US$ 573 bilhões de dólares,
o que representa a metade do PIB nacional e cresceu US$ 33,5 bilhões
em apenas dois anos. Cada um deles possui pelo menos US$ 1 milhão
em investimentos no Brasil e no exterior.
Somente uma sociedade baseada no domínio de uma pequena
minoria pode justificar tamanha irracionalidade. Os jovens e trabalhadores
brasileiros devem exigir o mínimo que o governo e os detentores
do capital têm obrigação de oferecer: o direito
ao trabalho e a uma vida digna. Eles somente terão força
suficiente para conquistar esse direito mínimo por meio
de sua auto-organização em todo o país, construindo
comitês que guardem total independência dos patrões
e dos governos. Os trabalhadores e os jovens só podem contar
com eles próprios. As suas vidas dependem da sua capacidade
de auto-organização.