Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 3 de agosto de 2007.
A administração da companhia ferroviária
alemã (Deutsche Bahn DB) deu novos passos para aumentar
a pressão sobre os trabalhadores ferroviários, enquanto
12.000 condutores e inspetores de trens decidiam a respeito da
greve por meio de voto secreto. Na sua ofensiva, o presidente
da Deutsche Bahn, Harmut Mehdorn, está confiante na colaboração
de dois sindicatos que representam os trabalhadores ferroviários
o Transnet e o Sindicato Alemão dos Empregados e
Aspirantes em Ferrovias Federais (GDBA Gewerkschaft Deutsche
Bundesbahnbeamten und Anwärter).
As duas organizações boicotaram a greve com um
descaramento nunca visto na história alemã do pós-guerra.
Desde o início elas se opuseram inflexivelmente às
reivindicações dos condutores de trens por reajustes
salariais, ainda que tenham bastante consciência dos salários
e condições de trabalho miseráveis enfrentados
pelos trabalhadores. Seus turnos são exaustivos e exigem
um alto grau de responsabilidade.
O boicote do Transnet e do GDBA também é apoiado
pela Confederação Alemã de Sindicatos (DGB
Deutscher Gewerkschaftsbund).
Em julho, a Deutsche Bahn concordou com um aumento de 4,5%
e um pagamento único de 600 para os ferroviários.
O acordo foi fechado rapidamente para isolar os condutores que
haviam feito uma reivindicação separada por um reajuste
maior. O acordo fechado pelos dois sindicatos ferroviários,
a Transnet e o GDBA, continha uma cláusula que estipulava
que a DB não poderia fazer nenhuma concessão aos
condutores organizados no seu próprio sindicato, o Sindicato
Alemão dos Condutores (GDL Gewerkschaft Deutscher
Lokführer).
A cláusula determinava especificamente que se a DB fizesse
um acordo separado com o GDL, o acordo já fechado com o
Transnet e o GDBA ficariam invalidados. O Transnet insistiu na
incorporação desta cláusula, que não
era nada menos do que uma forma de extorsão e que tinha
como objetivo forçar a capitulação dos Condutores.
Seguindo recomendação de um membro da direção
do Transnet, o executivo da Deutsche Bahn, Norbert Hansen, enviou
uma carta a todos os 136.000 trabalhadores pedindo que declarassem
se eram filados a algum sindicato e, em caso positivo, a qual
sindicato. O objetivo dessa carta era evitar que os associados
ao GDL recebessem o reajuste e o abono salarial de 600 pago
aos outros ferroviários. Deve-se observar que Hansen é
a pessoa adequada para aconselhar a companhia ferroviária
sobre como boicotar a greve dos condutores. Além de líder
do Transnet, Hansen participa do conselho administrativo da DB
- e recebe um gordo salário para isso, mantendo-se sempre
alinhado às políticas corporativistas industriais
alemãs.
Agora, assessorada por peritos legais ligados à Transnet,
a Deutsche Bahn lançou uma série de medidas legais
contra o sindicato dos condutores. Por meio de oito procedimentos
judiciais distintos, a companhia está tentando proibir
o sindicato de fazer uma greve. Em outra ação legal
a companhia está tentando fazer com que o sindicato não
possa nem organizar uma votação secreta a respeito
da greve - apesar deste procedimento ser permitido pela lei industrial
alemã durante a condução de disputas trabalhistas.
O jornal Süddeutsche Zeitung escreveu, no último
fim de semana, que isso era "ultrajante, porque a votação
sobre a greve faz parte da democracia". O termo "ultrajante"
se justifica e se aplica não somente ao presidente da DB,
Mehdorn, mas também ao Transnet e à DGB. Esses sindicatos
estão apoiando e participando ativamente da criminalização
da greve. Essa é uma nova dimensão do giro à
direita dos sindicatos.
Se as preparações do GDL para a greve forem consideradas
ilegais e a polícia recolher as urnas nos próximos
dias, tudo isso será feito com o apoio da DGB. Condutores
ou inspetores que se opuserem às ações legais
e tentarem defender seu direito democrático mínimo
de fazer greve serão processados e levados ao tribunal
- se depender da vontade das direções do Transnet
e da DGB.
Essa girada da DGB e seus sindicatos à direita tem implicações
políticas profundas, que não se limitam apenas à
atual luta dos condutores. As reivindicações dos
trabalhadores por reajuste salarial são inteiramente justas,
tendo em vista o aumento do custo de vida e suas difíceis
condições de trabalho. Até agora eles se
recusaram a recuar, mesmo tendo que lidar com uma frente composta
pelo governo, importantes empresas e os sindicatos que, juntos,
impuseram cortes cada vez mais vampirescos sob o comando das grandes
empresas.
Não há dúvidas que no futuro outras camadas
da classe trabalhadora terão atitudes semelhantes. As políticas
da grande coalizão que hoje governa a Alemanha (União
Democrata Cristã, União Social Cristã e Partido
Social Democrata) são abertamente detestadas e a oposição
popular contra elas vem crescendo. Sob essas condições,
na qual os partidos mais importantes da Alemanha cooperam numa
coligação cujas práticas políticas
servem exclusivamente à elite dominante, qualquer oposição,
para ser eficiente, tem que assumir uma forma extra-parlamentar
e se desenvolver por fora da tradicional rota de parceria social
da Alemanha pós II Guerra - isso é, a colaboração
entre direção da empresa e sindicatos.
A DGB deixou claro que está determinada a impedir esse
desenvolvimento a qualquer custo. Agora oferece seus serviços
para cortar pela raiz ou, quando necessário - e em colaboração
direta com o Estado - acabar com qualquer movimento independente
da classe trabalhadora. Esse é o verdadeiro significado
do apoio oferecido pelos sindicatos para as medidas judiciais
contra a luta dos condutores.
Ao mesmo tempo os próprios condutores não têm
clareza da dimensão política do seu enfrentamento.
Isso se expressa na posição manifestada pelo seu
sindicato, o GDL, que declarou que vê o conflito com a direção
da Deutsche Bahn como uma "disputa salarial normal",
enquanto usa a posição estratégica dos condutores
para conseguir um acordo melhor do que a Transnet. Os dirigentes
da GDL e seu presidente, Manfred Schell, também estão
tentando explorar as diferenças entre os partidos políticos
alemães com relação à privatização
da companhia ferroviária, mas ao mesmo tempo se recusam
a assumir uma posição de princípios contra
esse processo. Ao invés disso, têm a esperança
de obter um acerto que não somente represente uma melhora
para os condutores mas, acima de tudo, proteja a existência
dos sindicatos e seus aparelhos burocráticos.
A onda de ações judiciais e ameaças de
proibições , somadas às intimidações
feitas pela DGB, tornou claro que o confronto tem uma dimensão
política muito maior. Os opositores da greve consideram
o confronto dos condutores como um prelúdio para conflitos
sociais muito maiores e tentam intimidar e enfraquecer qualquer
resistência ao governo de coalizão.
Os condutores só poderão levar adiante sua luta
quando estiverem completamente conscientes das questões
políticas que estão em jogo e fizerem da sua campanha
o ponto de partida para um amplo movimento político contra
o governo. O boicote do Transnet e da DGB tem que ser colocado
no centro do confronto. Os condutores devem entrar em contato
com associados de outros sindicatos de trabalhadores ferroviários
e mobilizá-los contra as traições da direção
do Transnet.
A intensificação do confronto dos condutores
também deve atrair outros setores dos trabalhadores ferroviários,
numa luta contra os planos da direção da Deutsche
Bahn e do governo - sob a direção do ministro dos
transportes, Wolfgang Tiefensee (Partido Social Democrata) - que
visam privatizar as ferrovias. Os primeiro passos para a privatização
já foram tomados e tiveram conseqüências desastrosas.
Dezenas de milhares de empregos foram cortados.
Acima de tudo, é necessário romper com as políticas
oportunistas de parceria social e assumir uma perspectiva socialista,
que coloque as necessidades da população acima do
interesse das grandes empresas e dos bancos pelo lucro.