Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia18 de setembro de 2007.
Uma manchete recente do jornal Monroe Evening News anunciava:
1.200 empregos deixam a cidade de Monroe. Por pior
que seja o fechamento da Automotive Components Holdings (ACH),
subsidiária da Ford Motor Company, numa cidade de pouco
mais de 22.000 habitantes, é ainda mais alarmante quando
se considera a atual crise hipotecária de Monroe e a perda
de milhares de empregos bem remunerados durante os últimos
30 anos.
Uma comunidade que representou a esperança a gerações
e gerações de imigrantes estrangeiros e migrantes
do sul do país está sendo destruída pela
combinação fatal entre a exploração
financeira e uma burocracia sindical cúmplice e impotente.
As condições em torno do anúncio do fechamento
são bastante familiares. A Ford nunca teve a intenção
de que essa fábrica fosse mais do que uma fonte de lucro
rápido para depois fechá-la. Criada no final de
2005 como uma entidade de negócios temporária...
para preparar 23 instalações da antiga Visteon Corporation
[outra subsidiária da Ford] para ser vendida a outras partes
interessadas (Monroe Evening News, 5/11/07), a ACH
será fechada em 2008 porque, de acordo com a porta-voz
da ACH, Della DiPietro, havia outros fornecedores disponíveis
e nenhum comprador interessado nesta fábrica. (Monroe
Evening News, A11, 8/25/07)
O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística
dos EUA e Canadá (UAW - United Auto Workers) cumpriu
novamente um papel desprezível. Robert Cebina, presidente
do sindicato regional número 723 do UAW, admite ter ajudado
a ACH a obter abatimentos de impostos em troca de uma promessa
- não cumprida - de que nenhum trabalhador seria demitido
(Monroe Evening News, 5/11/07); e ainda que DiPietro alegue
que a decisão de fechar a fábrica não
foi tomada a portas fechadas, mas ao longo de um período
de dois anos, com bastante envolvimento do UAW e do quadro de
funcionários, membros desse quadro de funcionários
falam do fechamento como algo completamente inesperado para eles.
Dennis Vanthomme, 55, um trabalhador qualificado com 35 anos
de casa (tendo trabalhado na fábrica desde que ela se chamava
Monroe Ford Motor Stamping), diz que a fábrica de Monroe
era uma das duas únicas da ACH que dava lucro e que eles
nos fizeram pular miudinho para nada. É inacreditável.
Justin Graham, de 21 anos, que começou a trabalhar nessa
fábrica em novembro passado, diz que é um ambiente
de trabalho no qual a ACH e o UAW agem de comum acordo para manter
os trabalhadores desinformados. Ele conta que a maior parte da
informação que tem não vem do sindicato ou
da companhia, mas dos seus colegas de trabalho. Outro trabalhador
expressava a mesma insatisfação de Graham, dizendo
que nós sabemos que a fábrica vai fechar e
sabemos que vai haver outro contrato. É só isso
que sabemos. (Monroe Evening News, A11, 25/8/07).
A perda de 1.200 empregos certamente agravará os problemas
causados pelo crescente número de casas não vendidas
em Monroe. Mark Vinciguerra, vice-presidente da Ohio Investment
Company, que tem uma filial em Monroe, afirma que o excesso
de casas tem grande efeito na comunidade. Esse excesso ocorre
num momento em que o desemprego e a falta de estabilidade no trabalho
trazem como conseqüência um número maior de
pessoas tentando vender suas casas (do jornal Toledo Blade,
07/9/07). Quantos desses 1.200 que estão para perder seus
empregos em 2008 vão se somar aos outros que não
conseguem vender suas casas?
O fechamento da ACH também marca o fim de uma era de
um século de empregos industriais bem pagos em Monroe.
A própria história da fábrica que hoje é
a ACH, expressa a forte tradição de luta da classe
trabalhadora de Monroe. A planta foi construída em 1929
pela siderúrgica Newton Steel Corporation, e foi palco
de uma famosa mobilização em 1937, que fez parte
da grande greve nacional do conjunto de siderúrgicas conhecido
como Little Steel. Antes de a greve terminar e os
funcionários serem forçados a voltar ao trabalho,
11 trabalhadores foram feridos pela polícia de Monroe e
por 383 capangas contratados pela empresa.
A Alcoa comprou a fábrica em 1942, que passou a produzir
cabeças de cilindro para motores de avião até
1947, quando a Kelsey-Hayes adquiriu a planta. A Ford a comprou
em 1949, transformando-a, em 2000, na Visteon Corporation (uma
fabricante de auto-peças), até se tornar ACH em
2005.
Monroe era também um próspero centro de fabricação
de papel e produtos correlatos. As fábricas River Raisin
Paper Co. (construída em 1911), Monroe Corrugated Box Co.
(1917), Monroe Paper Products Co. (1921) e Consolidated Paper
Co. (1921) ofereceram empregos bem pagos para gerações
e gerações de cidadãos de Monroe, mas todas
essas fábricas e empregos já não existem
mais.
A fábrica de móveis La-Z-Boy, que estava estabelecida
em Monroe, mantém atualmente apenas o escritório
principal na cidade. A maior parte de sua produção
de móveis foi transferida para a China.
A única fábrica que permanece em Monroe com empregos
relativamente bem pagos, uma segunda planta da ACH em Milan (próximo
à fronteira), está para ser vendida ou fechar num
futuro próximo.
Inicialmente, os empregos na indústria atraíram
os imigrantes para Monroe. Em seguida vieram os sulistas. No início
do século XX, imigrantes europeus se empregavam nas fábricas
de papel; durante a Grande Depressão e depois da Segunda
Guerra Mundial, trabalhadores brancos e negros migraram do sul
do país, principalmente de Appalachia, para trabalhar nas
siderúrgicas e fábricas de automóveis.
Como em outras cidades americanas, esses empregos estão
sendo destruídos rapidamente. Não é por acaso
que a perda de empregos na indústria está acontecendo
simultaneamente à queda na venda de casas. O capitalismo
se torna cada vez mais parasitário - como o exemplo dos
esquemas de empréstimos predatórios responsáveis
pelo excesso de casas - e os lucros não vêm da produção
de mercadorias, mas da criação e da venda de dívidas.
Os sindicatos não cumprem mais a função de
proteger os empregos e os direitos dos trabalhadores, mas, como
no caso da greve da Newton Steel, para encher os bolsos dos dirigentes
corruptos, enquanto garantem que a direção da empresa
obtenha lucro.