Dois caminhoneiros, um na Espanha e outro em Portugal foram
mortos durante os protestos contra o aumento dos preços
dos combustíveis que dispararam na Europa e na Ásia.
As disputas envolvendo pescadores, fazendeiros e caminhoneiros
tem se tornado cada vez mais explosivas.
Julio Cervilla Soto, um caminhoneiro que trabalhava por conta
própria, morreu próximo ao supermercado atacadista
Merca Granada ao tentar parar uma van que o atropelou. Um caminhoneiro
português morreu ao tentar parar uma carreta na cidade de
Alcanena, ao norte de Lisboa.
A greve é encabeçada por caminhoneiros autônomos,
que são responsáveis por 20% dos 380 mil caminhoneiros
da Espanha. Eles dizem que só as grandes companhias podem
absorver o impacto do aumento de 36% no preço dos combustíveis
no último ano, porque elas ainda podem reduzir custos.
Juan Antonio, que possuí dois caminhões, disse
ao El País Eu ganho 85 centavos por kilómetro.
Disso, 50 centavos vai pra pagar o diesel. Em cima disso, ainda
temos que pagar segurança social, o motorista e a manutenção.
Só pra trocar os pneus, que tem que ser feito uma vez por
ano, custa 6 mil euros.
Alberto disse ainda: Você quer que eu te diga como
que o aumento do diesel me afeta? Eu fui pagar meu café
hoje de manhã e minha conta no banco não tinha nenhum
centavo. É assim que o preço dos combustíveis
me afeta. Pra mim não faz a mínima diferença
ficar parado aqui, eu não ia ganhar muito mais do que isso
se eu estivesse trabalhando.
O primeiro ministro José Luis Rodríguez Zapatero,
do Patido Socialista, ofereceu aos caminhoneiros empréstimos
de emergência e um pacote de aposentadoria antecipada, mas
se recusa a garantir a tarifa mínima que eles reivindicam,
dizendo que seria ilegal sob a legislação de competição
da União Européia.
O Ministro do Interior Alfredo Pérez Rubalcaba disse
que mais de 50 pessoas foram presas desde o início da greve
e que o governo mobilizou mais de 25 mil policiais para quebrar
as barricadas e escortar as carretas. Eles foram orientados para
agir com força e firmeza máxima.
As forças de segurança devem agir para
manter as rodovias livres e garantir a distribuição
dos produtos básicos disse Rubalcaba.
Desde o início da greve, os suprimentos de carne, pescados
e frutas para Madri estão escassos e uma corrida aos postos
de gasolina causou falta de combustível na Capital, Barcelona
e outras grandes cidades. Fabricantes de automóveis tiveram
que cortar a produção, abalada pea produção
just-in-time; companhias de transporte de balsas cancelaram
várias viagens para as Ilhas Balearic e Palma; mais da
metade dos canteiros de obra em Málaga foram paralisadas.
O governo chamou a tropa de choque para quebrar os protestos
nas cidades e liberar as fronteiras. Carreteiros estrangeiros
alegaram que forma mantidos como reféns durante dois dias
sem água ou comida na fronteira com a França em
La Jonquera. Na fronteira de Irún a polícia Basca
prendeu dois piquetes, sob acusação de que eles
teriam ameaçado um motorista de uma van com uma chave de
fenda.
Cerca de 21 pessoas, entre elas 13 policiais, ficaram feridos
em Alméria durante um conflito em frente a Câmara
Municipal envolvendo pelo menos 2500 fazendeiros que exigiam redução
na preço do diesel. Em Sevilha, cerca de 30 pessoas ficaram
feridas, incluindo 8 policiais, em um conflito em frente ao Parlamento
Andaluz, onde houve 7 prisões.
Em Alicante, num estado industrial em San Isidro, um caminhoneiro
de 43 anos que furava a greve teve seu caminhão incendiado
enquanto enquanto ele dormia dentro e sofreu queimaduras em um
quarto de seu corpo. Carretas também foram incendiadas
em Murcia no sul e em Arazuri, no norte.
Na quarta-feira, pescadores queimaram pneus na região
de Pontevedra, bloqueando temporariamente uma ponte em Portugal.
Outros que tentavam entrar no Parlamento Regional da Galícia
entraram em conflito com a polícia em Santiago de Compostela.
Em Portugal, as últimas notícias que os carreteiros
que estiveram em greve desde segunda-feira aceitaram um pacote
de medidas negociadas pelo governo. Assim como na Espanha, os
supermercados começaram a sofrer escassez de alimentos
frescos e longas filas se acumularam nos postos de abastecimento.
O principal aeroporto de Lisboa ficou sem combustível de
aviação. Pescadores bloquearama ponte de Guadiana
que conecta o sul de Portugal com a Espanha.
De primeiro a 3 de Junho, houve um boicote nacional às
companhias British Petroleum, Galp e Repsol, em protesto contra
os lucros recordes que elas acabaram de anunciar.
O Primeiro Ministro José Socrates se recusou a tomar
qualquer ação contra o aumento dos preços,
mas prometeu instalar placas com os preços dos combustíveis
nos postos de serviços e a criar um site informando o preço
dos combustíveis. Ele ainda pediu que o povo esperasse
até o aumento do salário mínimo em 2009.
Ainda houve protestos em vários outros locais da Europa.
Milhares de trabalhadores fizeram uma paralisação
na Polônia para protestar contra o aumento dos preços.
O coordenador regional no sul da Silesia, Rajmund Nierychlo, disse:
O protesto envolveu não apenas caminhões,
mas também vans, ônibus e taxis, assim como transporte
urbano em geral. Todos os tipos de veículos.
Fora o aumento dos preços dos combustíveis, os
caminhoneiros também se queixam dos altos custos dos pedágios,
os longos atrasos para cruzar as fronteiras da Europa do Leste
e a competição entre esses países, que compram
combustíveis muito mais baratos da Rússia.
O especialista do mercado de combustíveis Andrzej Szczeniak
explicou: Em relação aos preços e taxas
de combustíveis, não devemos nos comparar com o
resto da Europa, mas sim com nossos vizinhos do Leste. Os motoristas
poloneses, digo carreteiros e transportadoras comerciais, estão
competindo com combustíveis e mão de obra muito
barata do Leste Europeu. E se você comparar os preços
do diesel na Polônia com Belarus, Ucrânia ou Russia,
nós não temos como competir. A segunda coisa, é
que comparando com outros países da assim chamada Nova
Europa, nós não estamos em uma boa posição,
porque nossas taxas (as da Polônia) são as mais altas
de todas. O terceiro problema é que o VAT de 22%-uma taxa
extremamente alta na Polônia-não é dedutível
dos custos de produção.
Na Escócia, fazendeiros, pescadores e motoristas estão
se reunindo para discutir possíveis ações
futuras seguidas de um protesto em frente ao Parlamento Escocês
em Edinburgo. David McCutcheon, o gerente de uma empresa de transportes
disse: Há muita raiva e frustração
e as coisas estão começando a ficar fora de controle,
isso vai piorar, principalmente quando as firmas começarem
a falir.
O povo está se preparando para uma ação
militante. Os espanhóis estão bloqueando as estradas
e aqui vai acontecer a mesma coisa mais cedo ou mais tarde. O
país está rumando para uma explosão e uma
greve geral.
Isso não é apenas um bando de caminhoneiros
buscando ganhar o seu. Nós estamos lutando contra o custo
dos combustíveis que está afetando toda a economia.
Um protesto está marcado para o mês que vem, em
Londres, quando centenas de motoristas de caminhões tanque
que trabalham para a Shell devem entrar em greve contra os baixos
salários, que hoje valem menos que em 1992, apesar de trabalharem
11 horas a mais por semana.
Carreteiros holandeses também fizeram uma operação
tartaruga na quinta-feira.
Ásia
Na índia uma greve de 1 dia, chamada pela Federação
de Comerciantes e Fabricantes de Kashmir, para protestar contra
o aumento de 10% no preço dos combustíveis, causou
o fechamento de várias lojas e bancos no estado de Jammu-Kashmir.
Nós etamos totalmente indignados como aumento dos
itens de primeira necessidade, petróleo, diesel e gás
de cozinha. Por isso pedimos que todas as pessoas participem da
greve no dia 11 de Junho, disse o grupo num comunicado.
A ação coincidiu com o terceiro dia da greve
chamada pelos operadores do sistema de transportes, exigindo um
aumento das tarifas. O presidente da Associação
de Motoristas de Kashmir, Ghulam Muhammad Bhat disse: As
tarifas dos transportes não são reajustadas desde
2005, enquanto os preços dos combustíveis aumentaram
constantemente durante este período. Isto nos colocou uma
enorme pressão e a gente está sofrendo perdas consideráveis.
Nós informamos o governo sobre o aumento no preço
das peças automotivas mas eles não nos responderam.
E a escalada sem precedentes no preço do diesel nos forçou
a entrar em greve para exigir nossas reivindicações
disse Bhat.
Durante a greve, os manifestantes atiraram pedras no carro
de um político, Manzoor Ahmed, e soldados paramilitares
atiraram gás lacrimogênio e usaram cacetetes para
impedir que eles se dirigissem para Srinagar, a capital do estado.
Ao menos 20 pessoas foram presas durante um protesto em frente
a Secretaria Municipal.
Na Malásia, o maior produtor de petróleo na Ásia,
grupos de oposição planejam grandes protestos de
massas contra o aumeto de 41% no preço dos combustíveis.
O Primeiro Ministro Abdulah Ahmad Badawi tentou dispersar a oposição
dizendo: O governo sente que o povo ainda está tentando
superar a situação dos combustíveis
e prometeu que os preços não aumentariam novamente
este ano.
Shamsul Iskandar Akin, um líder da GERAMM Juventude
Contra o Aumento dos Preços rejeitou o argumento de Abdullah
e disse que o aumento foi repassado para os alimentos e para o
transporte, causando ainda mais dificuldades para os trabalhadores.
Uma passeata está planejada para hoje em Kuala Lumpur,
onde o monopólio estatal de combustíveis é
sediado. A polícia alertou que nenhuma autorização
havia sido emitida para a passeata e que os manifestantes seriam
presos.
No Nepal, protestos violentos tomaram conta do país
na terça-feira, logo depois que a NOC (Nepal Oil Corporation)
aumentou o preço dos combustíveis em 25%, seguindo
o aumento dos preços na India, de onde vem o petróleo.
A situação foi ainda piorada pela India, o principal
fornecedor de petróleo, que cortou as exportações
para o país em 80% esta semana, em retaliação
à falta de pagamento da NOC, que já está
praticamente falida. Purushottam Ojha, um executivo da NOC usou
a crise para anunciar que agora será permitido às
companhias privadas importar combustível de qualquer
parte do mundo, terminando o monopólio da India.
A Federação Nacional de Transportes do Nepal
publicou uma declaração dizendo que as tarifas de
ônibus para longa distância aumentariam 30% e as tarifas
de ônibus e taxi para curta distância aumentariam
35%.
Estudantes queimaram pneus, bloqueando estradas na capital
e desligando a auto estrada leste-oeste, a rota mais importante
de abastecimento da India. Protestos foram noticiados em outras
áreas do país.
Protestos similares aconteceram em outubro de 2007. Em outras
duas ocasiões, o governo tentou aumentar os preços,
mas grandes protestos forçaram o governo a recuar. A última
tentativa do governo de Girija Prasad Koirala de aumentar o preço
dos combustíveis ocorreu às vésperas das
eleições de Abril e contribuiu para a derrota de
seu partido no Congresso Nepalês.
Na Coréia do Sul vários portos estão parados,
bloqueados pelos caminhoneiros que aprovaram greve na segunda-feira,
em protesto contra o aumento do preço dos combustíveis.
Eles estão exigindo uma redução dos preços
dos combustíveis, o aumento das tarifas de transporte e
uma padronização da tabela de preços que
possam garantir um salário mínimo. Uma greve no
maior porto do país, Busan, que é responsável
por três quartos das exportações está
atrasando quase 90% do movimento dos containers.
Na Tailândia, milhares de caminhoneiros entraram em greve
para protestar contra a alta dos preços dos combustíveis.
Tingyu Kongongkhan, o secretário geral da Associação
Tailandesa de Transporte Terrestre, declarou na 1uarta-feira que
depois da paralisação de 120 mil caminhoneiros em
várias províncias nós apenas mostramos
nosso poder, estacionando os caminhões na rodovia, mas
se o governo não aceitar nossas reivindicações,
a federação decidiu fazer o dia 17 de Junho o dia
D. Traremos pelo menos 100 mil caminhões para Bangkok.
A federação exige que o governo venda diesel por
3 baht (R$ 0,20) por litro a menos que o preço do mercado
e subsidie a conversão dos caminhões para gás
natural.
A crise dos combustíveis também afetou pescadores
e fazendeiros. O presidente da Federação Tailandesa
de Pescadores, Mana Sriptak, disse que mais da metade de seus
membros, 50 mil barcos de pesca, estão ancorados nos portos
devido ao alto preço do diesel. Alguns foram queimados
em protesto.
Esta semana em Hong Kong centenas de carreteiros marcharam
em direção à sede do governo, exigindo uma
reunião com o executivo chefe Donald Tsang Yam-Kuen. A
polícia quebrou os vidros dos seus caminhões e os
guincharam depois deles terem paralisado o distrito central. Um
organizador disse que o setor de transportes estava sendo mutilado
pela alta dos combustíveis, que sofreram um aumento de
quase 20% entre dezembro e Maio.
A maior parte da indústria está sendo forçada
a fechar os negócios e alguns tem que vender seus containers,
trailers e tratores disse Tang Chi-Kueng, da Associação
do Serviço Público de Ônibus. Thomas Tam,
diretor da Associação dos Trabalhadores de Transporte
de Lixo, disse que vários trabalhadores estão planejando
entrar em greve pela primeira vez em 12 anos.