Publicado originalmente em inglês no WSWS no dia 8
de setembro.
Segundo estimativas oficiais, mais de 500 pessoas morreram
com a passagem da tempestade tropical Hanna na segunda-feira passada
e mais de 650 mil haitianos necessitam, urgentemente, de ajuda
médica. Hanna devastou o Haiti durante quatro dias da última
semana, destruindo a agricultura da ilha, árvores frutíferas
e favelas.
No momento em que este texto é escrito, outro furacão,
mais poderoso, Ike, de categoria quatro, assim como Josephine,
uma tempestade tropical em formação, ameaçam
o caribe. Segundo reportagens da Associated Press, o furacão
Ike acertou a agricultura da região central do Haiti com
tanta chuva, que os oficiais "disseram não haver alternativa,
se não abrir uma represa no Vale do Artibonite, inundando
mais casas e provavelmente destruindo por completo o "cinturão
do arroz" da região mais fértil do país,
região chave para livrá-lo da fome".
Ike é a quarta maior tempestade a atingir o país
em menos de um mês, seis dias após o Hanna. Oito
dias antes do Hanna atingir o país, o furacão Gustav
deixou grande número de mortos ao menos 77 no Haiti
em Hispaniola e deixou grandes áreas inundadas.
Uma semana antes disso, inundações e torrentes de
lama causadas pela tempestade tropical Fay mataram mais 40 pessoas
no Haiti. Meteorologistas alertaram que o solo está já
tão saturado que, mesmo na hipótese das novas tempestades
não passarem pelo Haiti, qualquer chuva futura trará
conseqüências catastróficas.
As tempestades geraram um enorme alarde, uma vez que o país
o mais pobre no hemisfério ocidental já
sofre imensamente com crises sociais, políticas e humanitárias.
A inflação no preço da comida e da gasolina,
particularmente no último ano, levou milhões, que
vivem com menos de US$1 por dia, à beira da inanição.
Cerca de 80 por cento da população tem de sobreviver
com menos de US$2 por dia; a grande maioria depende da agricultura
para a subsistência. A infra-estrutura para saúde,
tanto pública quanto física, praticamente não
existe.
Gonaives, a terceira maior cidade do Haiti, com uma população
de 300 mil habitantes, sofreu danos catastróficos com a
passagem de Hanna. Desde 5 de Setembro, 495 corpos foram descobertos
em áreas inundadas pela chuva ou pelo lama na cidade portuária,
situada várzeo Vale do Artibonite.
O Escritório para Coordenação de Assuntos
Humanitários da ONU alertou que o número de mortos
"aumenta a cada hora", e oficiais do governo orientaram
os sobreviventes das áreas ao redor a evacuarem a região.
Aproximadamente 48 mil residentes de Gonaives estão refugiados
em abrigos de emergência, enquanto milhares de outros ainda
estão em suas casas. Relatos da imprensa indicam que outros
sobreviventes, ainda, refugiaram-se nas montanhas, levando consigo
seus pertences.
Gonaives está especialmente sujeita aos deslizamentos
de terras e enchentes porque as ladeiras circundantes das montanhas
foram desmatadas e as árvores transformadas em carvão
vegetal pelos desesperados e pobres moradores. Em 2004, a tempestade
tropical Jeanne causou uma enchente que matou 3 mil pessoas no
Haiti a grande maioria de Gonaives.
Depois de Hanna, três rios da montanha avolumaram-se
com o aguaceiro torrencial e cortaram as principais vias da cidade;
de acordo com os funcionários da ajuda médica, pontes
tanto do norte como do sul ficaram intransponíveis, impedindo
a vinda dos veículos de resgate. No domingo, o Ministro
da Agricultura do Haiti, Joanas Gay, contou à Rádio
Nationale que a ponte Mirebalais, a única rota por terra
para a cidade, ficou impossibilitada pela inundação.
A vista aérea da região mostrou que as casas de
alumínio e madeira compensada de sucata submergiram, sendo
visíveis apenas seus telhados entre as águas turvas.
Os grupos de ajuda internacional prometeram socorrer a região
imediatamente, mas, durante dias, muito pouco foi feito. Logo
após a tempestade, um contingente da ONU vindo da Argentina
despejou por volta de 700 galões de água e 2 mil
pacotes de alimentos, de acordo com Jackeline Charles, repórter
da edição de 5 de setembro do Miami Herald. A força
da ONU evacuou apenas 400 pessoas. Somente depois de quinta-feira,
uma remessa de 20 mil pacotes com lençóis, kits
de primeiros socorros e garrafas de água, trazidos pela
Guarda Costeira dos EUA, chegaram à capital.
Na sexta-feira, um barco transportando poucos pacotes de comida
e garrafas de água da ONU aportou em Gonaives, levado por
tropas argentinas armadas com rifles. De acordo com uma reportagem
do jornal inglês Guardian, as forças da ONU distribuíram
suprimento em apenas dois abrigos, para apenas 2 mil pessoas,
antes de suspender a operação alegando questões
de segurança.
As coberturas de primeira mão revelam cenas de horror
e desespero. A Associated Press noticiou que crianças,
frenéticas com a fome, perseguiam os caminhões de
comida da ONU, correndo com a água até os joelhos,
gritando "Temos fome! Temos fome!". Numa cadeia local,
pessoas abandonadas, com "olhos profundos, costelas salientes
e dificuldade em respirar", disseram aos repórteres
estarem aproximadamente há uma semana sem comer.
A grande maioria está sem comida ou sem água
potável. Yuri Latortue, senador de Gonaives, disse à
imprensa no sábado que aproximadamente 2000 mil pessoas
não têm nada para comer há dias. "Não
podemos viver nessa situação", disse Baptiste
Jean, um morador de Gonaives, ao J. Charles do Herald. "Nós
não temos um país. Nós não temos um
presidente. A cidade está destruída".
Parnell Denis, correspondente da Oxfam em Gonaives, disse à
agência France Press no sábado que a cidade estava
"completamente devastada... as ruas ocupadas por pessoas
tentando alcançar o ponto mais alto da cidade. Os suprimentos
de comida e de água são escassos e o preço
da pouca comida que resta está subindo. O ânimo das
pessoas nos abrigos é tão baixo, que eu temo dizê-las
que outra tempestade se aproxima".