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Voto da OEA sobre Cuba revela fragilidade dos EUA na América
Latina
Por Bill Van Auken
13 de junho de 2009
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Publicado em inglês no WSWS em 5 de junho de 2009
A votação unânime realizada nesta quarta-feira
na Organização dos Estados Americanos (OEA), revogando
a suspensão de 47 de Cuba da entidade, é uma clara
indicação da fragilidade econômica e política
dos EUA por toda a região.
A decisão da Assembléia Geral da OEA, realizada
em San Pedro Sula, Honduras, resultado de 36 horas de controversas
discussões, revelou o isolamento diplomático de
Washington - agora o único país no hemisfério
que não mantém relações diplomáticas
com Havana - em face do apoio unânime da América
Latina ao fim da suspensão, que dura quase meio século.
A suspensão de Cuba da OEA e o banimento de seu reingresso
à organização foram impostas segundo a exigência
de Washington. Após a mal-sucedida invasão da CIA
à Baía dos Porcos nove meses antes, a administração
Kennedy optou por uma política de isolamento a Cuba, incluindo
um embargo econômico dos EUA que permanece até hoje.
Em janeiro de 1962, a OEA reuniu-se em Punta Del Este, Uruguai,
e adotou a medida de suspensão de Cuba da organização,
declarando que a adesão... ao Marxismo-Leninismo
é incompatível com o sistema interamericano.
Washington resistiu em fazer de Cuba o assunto predominante
no encontro da OEA, mas de nada adiantou. Na véspera da
seção, a administração Obama anunciou
que chegou a um acordo com Havana para abrir diálogo em
alguns assuntos, incluindo terrorismo, tráfico de drogas
e serviço de correio. Anteriormente, Obama anunciou uma
flexibilização muito limitada das sanções
econômicas, tornando mais fácil a visita de cubano-americanos
a Cuba e o envio de remessas à ilha.
Em Honduras, a Secretária de Estado dos EUA, Hillary
Clinton, tentou evitar que a OEA aprovasse a resolução
que oferecia a Cuba a reentrada na organização,
sem impor condições definidas. Em particular, ela
e a delegação dos EUA tentaram introduzir uma linguagem
que amarrasse a proposta ao comprometimento de Cuba com a Carta
Democrática Interamericana de 2001, que definiu democracia
como um sistema pluralista de partidos políticos.
Ela também invocou documentos prévios da OEA defendendo
a inviolabilidade da propriedade privada.
Os membros da OEA com vínculos mais próximos
com Havana - Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador
- categoricamente rejeitaram tais condições e, na
terça-feira à noite, pareceu que a organização
se encontrava num impassse. Alguns ministros das relações
exteriores latino-americanos advertiram que o fracasso em alcançar
um acordo poderia implicar o fim da organização.
Um grupo menor de ministros das relações exteriores
- incluindo Clinton - reuniu-se a portas fechadas para trabalhar
em uma linguagem mutuamente aceitável. Ao final, um acordo
foi alcançado, mas somente após a saída de
Clinton. Os EUA concordaram com a linguagem um pouco mais ambígua,
enquanto os governos de Hugo Chavez, Evo Morales, Daniel Ortega
e Rafael Correa concordaram com a inclusão de uma cláusula
que acalmaria Washington.
A decisão das duas partes anunciou a revogação
da medida anterior que excluía Cuba da OEA, e acrescentou
que a readmissão da ilha surgiria de um processo
de diálogo iniciado com a solicitação do
governo de Cuba e em conformidade com as práticas, propósitos
e princípios da OEA.
A medida passou, sem oposição.
Os países que defenderam a oferta incondicional para
readmitir Cuba interpretaram esta segunda cláusula como
meramente processual, indicando que a readmissão de Cuba
seria realizada sob as regras existentes da OEA.
A delegação dos EUA, contudo, tentou apresentá-la
como uma justificativa a sua solicitação, para que
Cuba primeiramente provasse seu compromisso com a democracia,
conforme definido nos documentos anteriores da OEA. Clinton, que
voou para o Cairo para juntar-se ao presidente Barack Obama, afirmou
a vitória com a declaração: Estou contente
que todos tenham concordado que Cuba não pode simplesmente
pegar seu assento na OEA.
O Secretário de Estado para a América Latina,
Thomas Shannon, um remanescente da administração
Bush, também tentou colocar a melhor face na resolução,
dizendo à assembléia que Washington não
estava interessada em lutar velhas batalhas ou viver no passado.
Ele chamou a medida de um ato de estadistas, enquanto
insistia que ela defendia nosso profundo compromisso com
a democracia e os direitos humanos fundamentais de nossos povos.
Tal discurso inflamado, de qualquer modo, não conseguiu
esconder o significado essencial do voto da OEA. Ele representou
uma contundente derrota para Washington, que vem tentando administrar
cuidadosamente um descongelamento parcial de relações
com Cuba, ao mesmo tempo em que continua sua campanha pela mudança
no regime em Havana.
Esta é uma reveladora indicação do declínio
do poder dos EUA em toda a região. Limitada por duas guerras
prolongadas e enfrentando crescentes concorrências tanto
da Europa quanto da China, assim como do Brasil, para o comércio
e investimentos na América Latina, Washington não
está mais em posição de ditar regras para
os governos que representam os interesses das elites dominantes
ao sul de sua fronteira.
O significado desta decisão não passou em branco
entre os cubanos anti-Castro nos EUA, que protestaram intensamente
contra a decisão da OEA. Congressistas cubano-americanos,
incluindo o Senador Democrata Robert Menendez de New Jersey e
Mario e Lincoln Diaz-Balart solicitaram cortes na legislação
dos EUA para o financiamento para a OEA. Em uma declaração
conjunta, os irmãos Diaz-Balart chamaram a OEA de uma
deteriorada perturbação, enquanto Menendez
chamou a resolução de absurdamente vaga,
e disse que o Congresso debateria o quanto nós estamos
dispostos a apoiar a OEA enquanto instituição.
Os chefes de estado latino-americanos celebraram a decisão.
O presidente da Venezuela, Chavez, disse que a decisão
significou que nós não somos mais o quintal
dos Estados Unidos, nós não somos mais uma colônia.
O presidente hondurenho Manuel Zelaya proclamou que com a aprovação
da resolução, a Guerra Fria terminou neste
dia em San Pedro Sula. Em referência à famosa
passagem de um discurso feito por Fidel Castro durante seu julgamento
pelo fracassado assalto ao quartel do exército cubano em
1953 na cidade de Moncada, Zelaya acrescentou, Eu disse
ao comandante Fidel Castro: Hoje a história absolveu
você'.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva chamou
a decisão da OEA de uma vitória para o povo
latino-americano. Lula fez esta observação
ao final de uma viagem por três nações da
América Central na qual promoveu alianças comerciais
e investimentos de capital para corporações e bancos
brasileiros. Entre os acordos concluídos estava a criação
de uma planta de produção de etanol na Costa Rica
para exportação para o mercado dos EUA.
Eu nem sei se eles querem voltar para a OEA, mas, em
todo caso, eles não estarão tão marginalizados,
disse o presidente brasileiro sobre os cubanos.
Na realidade, Lula não falou pelo povo latino-americano,
mas sim, pelos capitalistas brasileiros, que vêem em Cuba
uma fonte potencial de superlucro e querem o fim do embargo econômico
dos EUA e das significantes dificuldades que isso apresenta para
a exploração do trabalho e dos recursos da ilha.
Não foi a história que absolveu o Castro em San
Pedro Sula, mas, sobretudo, a burguesia latino-americana. Este
tem sido um demorado processo no qual seus governos restauraram
relações diplomáticas normais e viram a tentativa
dos EUA de colocar Cuba de quarentena como cada vez mais e mais
irracional.
Desde o início, a tentativa do imperialismo dos EUA
de isolar Cuba em nome do sistema interamericano baseado
na democracia e livre mercado foi mergulhada em hipocrisia.
No meio desta votação em 1962, para jogar Cuba para
fora da OEA, estavam as ditaduras de Trujillo na República
Dominicana, Somoza em Nicarágua e Stroessner no Paraguai.
De sua parte, Fidel Castro rejeitou até a possibilidade
do retorno de Cuba a OEA, a qual ele se referiu como ministério
de colônias dos Estados Unidos, e infame e repugnante
antro de corrupção.
No interior da própria OEA, o banimento de Cuba ocorreu
sob crescentes desafios para os governos burgueses latino americanos,
que, nos anos 70, viam Cuba como uma ameaça à sua
estabilidade. O regime nacionalista em Havana abandonou suas pretensões
revolucionárias dos anos 60. Castro desistiu das políticas
de promoção de guerras de guerrilha, aceitou o estado
existente instalado na América Latina e subordinou seu
regime à política de coexistência pacífica,
defendida pela burocracia stalinista de Moscou, que subsidiava
pesadamente a economia cubana.
Existia um movimento significativo para revogar a suspensão
de Cuba da OEA em 1973, depois que a organização
adotou a doutrina do pluralismo ideológico,
principalmente para acomodar o crescente número de ditaduras
militares apoiadas pelos EUA, que claramente falharam em encontrar
pretensões democráticas para o tão falado
sistema interamericano. Em julho de 1975, a OEA votou pela liberdade
dos membros em determinar seu próprio relacionamento com
Cuba. Não obstante, Washington conseguiu invalidar todas
as tentativas de readmitir Havana na organização.
Enquanto aclamavam a votação em Honduras como
uma defesa histórica, o regime cubano reiterou
que não tinha interesse em retornar a OEA. Às vésperas
da votação, o doente ex-presidente Fidel Castro,
escrevendo em uma de suas regulares colunas de reflexões,
denunciou a OEA como uma cúmplice em todos os crimes
cometidos contra Cuba e declarou ser ingênuo
acreditar que as boas intenções de um presidente
dos Estados Unidos justifiquem a existência desta instituição,
que ele descreveu como um cavalo de Tróia.
Enquanto o regime Castro tem gozado de uma aliança de
vitórias diplomáticas, a situação
da economia interna de Cuba parece estar crescendo de forma cada
vez mais violenta. Começando em 1 de junho, o governante
Raul Castro anunciou medidas excepcionais para lidar
com a crise crescente. Várias restrições
têm sido impostas no uso da eletricidade, forçando
os escritórios do governo e o setor varejista a manter
luzes e ar condicionados desligados na maioria dos dias e existe
a ameaça de apagão para províncias inteiras
caso elas usem mais do que sua cota de energia.
O Ministro da Economia e Planejamento Marino Murillo revelou
que as projeções anteriores de crescimento de 6%
para a economia foram jogadas fora, e agora apenas 2,5% de crescimento
foram previstos, na medida em que a economia cubana foi golpeada
pela crise econômica e ainda está cambaleando pela
perda de $10 bilhões de dólares, sofrida devido
a três furacões no último ano. Os preços
das importações aumentaram, enquanto o preço
do níquel, a principal exportação do país,
afundou.
Dentre outras medidas austeras que têm sido implementadas,
estão as drásticas reduções nos serviços
de ônibus e um corte de 50% em gastos para almoços
fornecidos para funcionários de empresas estatais.
As medidas são as mais severas vistas desde o tão
falado Período Especial que seguiu o colapso da União
Soviética em 1991, quando os subsídios de Moscou
acabaram e o PIB caiu em 35%.
Enquanto Raul Castro prometeu aumentar o nível de vida
quando assumiu, de seu irmão Fidel Castro, o controle da
ilha no ano passado, as políticas do governo e a pressão
da crise global capitalista produziram exatamente o oposto, resultando
no aumento das tensões sociais.
Durante décadas, o regime Castro clamou por legitimidade
política baseada em sua resistência as agressões
dos EUA e apelou aos sentimentos nacionalistas do povo cubano,
pela manutenção - pelo menos até o período
recente - de um determinado nível de igualdade social,
mesmo que seja no nível empobrecido da maioria dos trabalhadores.
Cabe perguntar então: o que será do regime cubano
agora, quando as relações não são
mais conflitantes?
O levantamento do embargo econômico dos EUA contra Cuba,
trazendo consigo um influxo de capital estrangeiro - uma medida
apoiada por seções predominantes da corporação
dos EUA e do capital financeiro, assim como pelas elites dominantes
na América Latina - causaria uma forte intensificação
da crise econômica e política na ilha.
[traduzido por movimentonn.org]
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