Em um acordo negociado na Chrysler, a administração
Obama elevou o sindicato United Auto Workers (UAW) à posição
de principal diminuidor de gastos da empresa, dando-lhe a tarefa
de ceifar os empregos, reduzir os salários e benefícios
e impor aos trabalhadores que afirma representar condições
de exploração ainda mais brutais.
O acordo da Chrysler servirá como modelo para uma traição
similar contra os trabalhadores da General Motors.
A Casa Branca dará ao UAW o controle majoritário
da Chrysler, com 55% das ações da companhia, e 39%
da participação acionária na GM, tornando-o
o segundo maior acionista da GM. Por sua vez, o governo federal
será proprietário de mais de metade das ações
da GM.
Isso completarará a transformação do UAW
em uma empresa cuja renda depende de uma parcela dos lucros que
vieram do suor dos trabalhadores.
Como observou a Business Week, "O sindicato, na
verdade, será dono de uma porcentagem maior da GM e da
Chrysler do que a família Ford tem da Ford Motor Company.
Será proprietário de parcelas maiores da GM e Chrysler
do que o financista bilionário Kirk Kerkorian foi capaz
de acumular ao dirigir ambas as companhias.
O UAW, que está sendo aconselhado por uma firma de investimento
de Wall Street, a Lazard, ganhará cadeiras nas mesas de
diretores das montadoras e exercerá um papel protagonístico
em reestruturar e enxugar as firmas, selecionar produtos e garantir
"taxas de trabalho competitivas" em fornecedores-chave,
até mesmo fará a revisão dos planos de produção
mundiais da companhia.
Assim que milhares de empregos forem cortados e os trabalhadores
forem roubados do que lhes resta dos ganhos de lutas passadas,
o valor das ações da Chrysler e da GM irão
subir, garantindo vastos lucros para Wall Street e seu parceiro
júnior, o UAW.
O UAW está procurando forçar a aprovação
do novo contrato com a Chrysler em um voto de ratificação
hoje menos de 24 horas após os trabalhadores terem
recebido a lista de "apontamentos" contratuais do UAW.
Até mesmo o que os executivos do UAW escolheram incluir
em seu comunicado aos trabalhadores como sempre, um documento
desonesto e interesseiro projetado para ocultar mais do que relevar
demonstra que o UAW é um "sindicato" apenas em
nome.
Tudo aquilo que os trabalhadores tradicionalmente associam
com um sindicato o direito de entrar em greve, maiores salários
e benefícios do que trabalhadores não-sindicalizados,
proteções no processo produtivo, a chance de aposentadoria
com uma pensão estabelecida e benefícios de auxílio-saúde
tudo isso foi jogado fora.
Não haverá mais sequer a pretensão da
barganha coletiva e garantias contratuais. No lugar, de acordo
com o sumário do contrato, as taxas de salário e
benefícios "serão baseadas na manutenção
pela Chrysler de um custo total de trabalho horário comparável
ao dos seus competidores nos EUA, incluindo fabricantes automotivos
vindos do exterior."
Em outras palavras, os trabalhadores vinculados ao UAW receberão
o mesmo ou menos que trabalhadores não-sindicalizados nas
fábricas japonesas localizadas no Mississippi, Alabama
e outros Estados do sul com uma diferença: eles ainda
serão obrigados a pagar o imposto sindical ao UAW.
Sob os termos do acordo, o pagamento de uma vez e meia o salário
por tempo trabalhado além da jornada diária de oito
horas será eliminado, com o cálculo das horas-extras
com base semanal, ou seja, por horas trabalhadadas para além
das 40 horas.
O intervalo será reduzido de 46 para 40 minutos diários.
Os custos de auxílio básico ganho após
uma greve de 67 dias por trabalhadores da GM em 1970 será
eliminado, junto com os bônus de eficiência e natalino.
Os ofícios especializados serão fundidos em duas
classificações.
O feriado de páscoa de dois dias será eliminado.
O serviço do UAW em vender a próxima geração
de trabalhadores metalúrgicos como uma fonte de trabalho
barata, sem a mínima segurança de emprego, continua.
O acordo estenderá o uso de empregados temporários
de meio-período e a contratação dos assim-chamados
"empregados de entrada" que receberão metade
do salário de trabalhadores mais antigos e receberão
pouquíssimos benefícios e nenhuma pensão
vinda do empregador.
Todos os trabalhadores da planta de Twinsburg, Ohio, serão
forçados a aceitar salários de uma alçada
inferior para manter a "viabilidade" da fábrica.
Benefícios de desemprego suplementares, que, junto com
os benefícios de desemprego do governo, provinham trabalhadores
demitidos com 90% de seus salários, serão bruscamente
reduzidos logo no momento em que a companhia planeja um grande
enxugamento. No lugar desses benefícios, os trabalhadores
receberão a "assistência de transição"
que, junto com os benefícios estatais, pagará apenas
50% do salário bruto de um trabalhador.
Talvez o tratamento mais brutal seja aquele dado aos aposentados
e suas famílias. Como parte do acordo com a administração
Obama, o UAW concordou em aceitar metade dos 10 bilhões
de dólares que deve ao seu já subnutrido fundo da
Chrysler de auxílio-saúde (conhecido como Associação
Beneficiária Voluntária de Empregados, ou VEBA)
em ações da Chrysler, em vez de dinheiro. Anteriormente,
o UAW disse que não haveria mudança nos benefícios
até 2012. Agora concordou em realizar "ajustes"
imediatos nos benefícios. Esses ajustes incluem o aumento
da parcela paga pelos segurados por remédios e a eliminação
do auxílio dental e oftalmológico.
Embora o UAW afirme que os benefícios de pensão
para trabalhadores de longa data e aposentados tenham sido protegidos,
é amplamente divulgado que a Chrysler pretende jogar nas
costas da frágil Corporação de Garantia de
Benefício de Pensão do governo suas obrigações
de pensão. Isso implicaria em cortes severos sobre os benefícios
de pensão.
O acordo essencialmente arranca dos trabalhadores metalúrgicos
o direito à greve. O atual contrato, que expira em 2011,
será estendido para 2015 e quaisquer questões mal
resolvidas devem ser solucionadas através de arbítrio
autoritário.
Procurando garantir e aprovar sua traição, o
UAW novamente afirma que concessões são necessárias
para "salvar" a Chrysler e preservar empregos. As concessões
são necessárias para garantir a assistência
federal continuada pela administração Obama e prevenir
a bancarrota, afirma o UAW, assim como para atrair a fabricante
italiana Fiat a investir na companhia. Isso, o UAW se vangloria,
proverá mais de 4.000 novos empregos.
De fato, sob os termos do "plano de viabilidade"
ditado pela força-tarefa de Obama para os assuntos das
montadoras e aceito pelo UAW, a Chrysler cortara bem mais que
4.000 empregos.
O resumo do contrato do UAW declara: "Reconhecendo a gravidade
da situação e concluindo que falhar em corresponder
às exigências do governo certamente significaria
o fim da Chrysler, os negociadores do UAW trabalharam com afinco
em modificações ao Acordo que atendessem aos requerimentos
do governo e ao mesmo tempo resultam nos menores infortúnios
aos nossos membros... Na face da adversidade, nós conseguimos
novas garantias de produto."
Como todo o resto que o UAW diz, essa é uma mentira.
Todo contrato de concessão que o UAW empurrou nos últimos
30 anos desde o pacote de resgate à Chrysler em 1979-1980
foi imposto em nome da "segurança de emprego".
Durante todo esse período, cerca de 3/4, de um milhão
de trabalhadores da GM, Ford e Chrysler perderam seus empregos,
e a demanda por concessões nunca parou.
Mesmo considerando a fusão com a Fiat, a Chrysler deve
fechar ao menos sete plantas e completar planos para eliminação
de 60% de sua força de trabalho de colarinho branco. Sob
condições de crise econômica em agravamento
e as menores vendas de automóveis em um quarto de século,
a competição entre as montadoras globais em cortar
empregos e custos de trabalho irá apenas se intensificar.
As novas concessões na Chrysler estabelecem uma nova
e mais baixa referência, que irá desencadear uma
exigência atrás da outra de mais concessões
de salários e benefícios. Oficiais da Ford já
indicaram que não podem aceitar uma "desvantagem competitiva"
e esperam que os membros do UAW na Ford aceitem concessões
similares.
Além do mais, a administração Obama não
descartou a falência para rapidamente livrar a companhia
de fábricas e bens não lucrativos e torná-la
mais atraente para os investimentos da Fiat ou outras firmas.
Na segunda-feira, a GM emitiu um novo anúncio de corte
de empregos, tornando claro que a administração
Obama e o UAW estão conspirando para eliminar dezenas de
milhares de empregos em excesso. A GM irá cortar outros
23.000 empregos um terço de sua força de trabalho
de colarinho branco e fechar 18 de seus 47 complexos nos
EUA. Além disso, eliminará a marca Pontiac e cortará
em quase metade o seu número de concessionárias,
um passo que irá destruir dezenas de milhares de empregos
nessas distribuidoras.
A força-tarefa de Obama, liderada pelo investidor bilionário
de Wall Street Steven Rattner, imediatamente elogiou o novo plano
da GM como um "passo importante." Em suas ações
no sentido de reestruturar a indústria automobilística,
a administração Obama está funcionando como
um implacável instrumento de Wall Street.
Os grandes investidores por muito tempo estiveram insatisfeitos
com os retornos obtidos dos fabricantes de veículos, em
comparação com as fortunas geradas pela especulação
financeira. A força-tarefa insistiu que as companhias automotivas
forneçam um "capital de retorno adequado" para
Wall Street sob todas as circunstâncias, incluindo as de
declínio econômico.
A elite dominante dos EUA vê o empobrecimento dos trabalhadores
metalúrgicos das montadoras por muito tempo os mais
bem pagos trabalhadores industriais dos EUA como um precedente
para transformar as relações de classe, desencadeando
uma onda de ataques contra os salários e contra toda a
classe trabalhadora.
Enquanto os grandes investidores, os patrões das montadoras
e o UAW asseguram seus interesses, os trabalhadores da GM, assim
como os da Chysler, estão em face do desastre. Esse processo
pode ser barrado somente pela rejeição dos contratos
de concessão do UAW e pela mobilização dos
trabalhadores de base para expulsar das fábricas o reacionário
UAW.
Comitês de fábrica independentes, constituídos
pelos trabalhadores mais militantes e conscientes de classe, precisam
ser organizados para mobilizar os operários da Chrysler
e GM contra a chantagem do UAW e do governo e proporcionar a união
com os trabalhadores da Ford, assim como os trabalhadores das
fábricas vindas do exterior. Um apelo especial precisa
ser feito aos trabalhadores metalúrgicos canadenses e mexicanos
e trabalhadores na divisão Opel da GM, na Europa, pela
ação conjunta em defesa dos empregos e padrões
de vida.
A ação industrial greves, passeatas, ocupações
de fábrica precisa ser combinada com uma nova estratégia
política. Os trabalhadores das montadoras precisam rejeitar
a aliança traidora do UAW com o Partido Democrata e lutar
pelo desenvolvimento de um movimento socialista de massas da classe
trabalhadora.