Enormes contrações no primeiro trimestre das
principais economias mundias foram anunciados há poucos
dias, indicando o aprofundamento da crise econômica.
O México foi o último país a declarar
um grande declínio no primeiro trimestre, anunciando na
quarta-feira que sua economia encolheu 8,2% em comparação
com o ano anterior. Trata-se da mais brusca queda desde que a
crise do peso em 1995 levou o país à beira da insolvência.
O país já soma uma queda anual total de 21,5%.
Isso se seguiu ao anúncio feito terça-feira pelo
governo japonês. A economia do país contraiu 4% no
quarto trimestre do ano passado, a pior queda desde 1955, e 15,2%
no acumulado anual. A economia japonesa já havia encolhido
3,8% no trimestre precedente.
A Alemanha, por sua vez, anunciou semana passada que sua economia
caiu 4% no primeiro trimestre, a contração mais
aguda desde que o governo começou a colher estatísticas
trimestrais, em 1970. A Alemanha, cuja economia exportadora é
grandemente dependente da demanda externa, foi a mais afetada
entre as grandes economias européias; todas registraram
declínios significativos.
Na segunda-feira, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco
Central Europeu, afirmou, em nome da Organização
pela Cooperação Econômica e Desenvolvimento,
que o declínio chegara a um "ponto de inflexão".
Se baseando principalmente na performance do mercado de ações
e em estatísticas sobre a confiança do mercado,
Trichet sugeriu que um ascenso estaria próximo.
"Em todos os casos nós vemos uma desaceleração
do declínio dos PIBs. Em alguns casos, já se pode
notar uma recuperação", concluiu. O último
pacote de estatísticas de PIB certamente não dá
credibilidade a esse prognóstico.
As estatísticas oficiais divulgadas na sexta-feira indicam
que a economia da zona do euro contraiu 2,5% no primeiro trimestre,
comparado a 1,5% no último trimestre de 2008.
As estatísticas envolvidas são aterradoras. Como
apontou a coluna Lex do Financial Times: "Se a economia
alemã continuar seu encolhimento à essa taxa, ficará
um quinto menor ao final do ano, revertendo inteiramente uma década
e meia de crescimento desde a unificação."
As economias da Europa Oriental estão sendo pulverizadas.
As últimas estatísticas indicam que a Eslováquia,
mais novo membro da UE, viu sua economia contrair-se 11,2% nos
primeiros três meses do ano.
México, Alemanha e Japão estão entre os
maiores parceiros comerciais dos EUA, juntos contabilizando meio
trilhão de dólares em trocas comerciais anuais com
os EUA. Antes do declínio econômico, as importações
americanas se aproximavam dos três trilhões de dólares
por ano e constituíam uma grande força motora em
levar a produção para o estrangeiro.
As importações americanas de bens de consumo
caíram mais de 30% no primeiro trimestre de 2009 em comparação
ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Wall Street
Journal. Em 2006, os EUA possuíam um déficit monetário
de mais de US$ 800 bilhões, que agora caiu para US$ 500
bilhões. Desemprego em alta, valores imobiliários
em queda e despejos hipotecários em massa prepararam declínios
significativos no consumo de mercadorias estrangeiras, incluindo
carros e produtos de consumo. A produção automobilística
mexicana, boa parte da qual é dirigida ao mercado dos EUA,
caiu mais que 41%, de acordo com o Wall Street Journal.
O declínio econômico despedaçou a complexa
rede da produção internacional, deixando os produtores
na cadeia de suprimento global completamente separados da informação
sobre quanto produzir.
"Na verdade, você escolhe um número sem qualquer
tipo de conhecimento, porque ninguém sabe de nada",
disse um fabricante de peças eletrônicas entrevistado
pelo Wall Street Journal. Em seguida ao anúncio da queda
da produção japonesa, a Sony disse que cortaria
sua rede global de distribuidores pela metade para compensar a
demanda reduzida.
O investimento estrangeiro encolheu 15% no último ano,
de acordo com um relatório publicado quarta-feira pelas
Nações Unidas. Supachai Panitchpakdi, secretário
geral da Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento
(UNCTAD) da ONU, disse que o declínio do investimento estrangeiro
seria "muito mais profundo" que o dos últimos
anos.
Enquanto isso, o mercado global de ações e os
lucros financeiros continuaram subindo. Nos últimos três
meses, todos os principais índices financeiros mundiais
tiveram altas significativas. O All-World da FTSE subiu mais de
40% desde março.
Ao longo dos últimos três meses, o índice
americano NASDAQ ganhou 16,88%, o europeu FTSE Eurofirst 18%,
o japonês Nikkei 24,91%, e o taiwanês Hang Seng 35,44%.
O índice Vanguard Financials, enquanto isso, superou todos
os anteriores, subindo 42% desde 6 de março.
Como o Financial Times apontou em um artigo na quinta-feira,
a recuperação dos mercados de ação
está ligada aos trilhões de dólares em dinheiro
que os bancos centrais ao redor do mundo bombearam na circulação.
"Os mercados estão sendo inundados por uma injeção
de dinheiro aplicada pelos governos e bancos centrais, causando
uma nova rodada da especulação que elevou os índices
acima daqueles de dois anos atrás. Em algum ponto a enchente
será drenada ... Se a esperança é artificial,
o desapontamento provavelmente será real".
Os EUA sozinhos devem bombear quase US$ 15 trilhões
no sistema financeiro, de acordo com um relatório recente
do Deutsche Bank. Os principais países desenvolvidos tomaram
iniciativas similares, injetando trilhões nas finanças
enquanto as economias reais sofreram os maiores danos desde a
década de 1930.
O programa do Governo Obama o empobrecimento dos trabalhadores
através de demissões e reestruturação,
junto a enormes subsídios aos financistas tem, com
certas ressalvas, sido o modus operandi dos governos de todos
os países desenvolvidos. Nos países com altos déficits
externos, como os EUA, Espanha e Reino Unido, isso tem o efeito
de exteriorizar as contradições.
Mas os outros países não estão respondendo
da forma mais racional. Michael Pettis, um professor de finanças
da Universidade de Pequim, escreveu no Financial Times
de quinta-feira que um número de exportadores asiáticos,
particularmente a China, estão tentando compensar a demanda
mundial em queda pelo estímulo à produção
industrial.
Essas políticas investidoras sobem o consumo indiretamente,
pelo estímulo à produção, então,
apesar de temporariamente estimularem o crescimento, não
podem resultar em um aumento suficientemente grande do consumo
doméstico líquido de modo a substituir as importações
americanas. O que é pior: em alguns casos essas políticas
restringirão agudamente o consumo doméstico futuro,
logo quando ele será mais necessário."
Resumindo, enquanto a elite dos EUA quer voltar a ter grandes
lucros através do empobrecimento de milhões e a
conseqüente redução do atual déficit
das contas, a China procura restaurar os lucros erguendo ainda
mais uma insustentável capacidade de manufatura. Tais políticas
são conflitantes, mas seu resultado mútuo será
é o mesmo: o empobrecimento dos trabalhadores nos países
importadores, grande desemprego, sobrecapacidade e aprofundamento
da crise nos exportadores.
Esses processos, em desenvolvimento dentro de uma economia
mundial em queda livre e paralelos ao crescimento drástico
do desemprego, predizem levantes sociais ao redor de todo o mundo.