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Venezuela e Rússia anunciam acordo armamentista de
US$ 2.2 bilhões
Por Bill Van Auken
22 de setembro de 2009
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com o autor
Publicado originalmente em inglês em nosso site no
dia 15 de setembro de 2009.
O presidente da Venezuela Hugo Chávez anunciou que durante
sua última viagem para Moscou fechou um acordo militar
de US$ 2,2 bilhões com o governo russo, buscando suprir
Venezuela com tanques de batalha e sofisticados mísseis
terra-ar.
O acordo armamentista é um sintoma das tensões
acumuladas na região, cada vez mais exacerbadas pelos conflitos
entre Washington e outras potências da arena mundial.
No talk show semanal de domingo, "Aló Presidente",
Chávez deixou claro que via o acordo militar como meio
de contraposição à crescente ameaça
de agressão por parte dos EUA, particularmente após
o golpe em Honduras e o anúncio do acordo EUA-Colômbia
que permite que forças militares americanas usem sete bases
em território colombiano.
As armas russas, afirmou Chávez, proveriam a Venezuela
com "os recursos mínimos necessários para garantir
ao nosso povo a defesa de nosso território e de nossa riqueza
energética". Dificultaria, assim, segundo ele "o
bombardeio por parte de aviões estrangeiros". O pacote
de armas inclui os sistemas de míssil terra-ar S-300, os
tanques de batalha 92 T-70 e T92 e lançadores de foguete
Smerch para uso contra blindados e outros alvos em terra. O governo
russo está fornecendo à Venezuela financiamento
para pagar as armas.
Entre 2005 e 2007, a Venezuela possuía contratos para
cerca de US$ 4 bilhões em armas russas, incluindo caças,
helicópteros e 100.000 rifles de assalto Kalashnikov.
O último acordo também inclui planos para que
a Rússia forneça assistência ao programa de
energia nuclear venezuelano. "Não faremos uma bomba
atômica", Chávez assegurou, "então
não nos incomodem como com o Irã."
De sua parte, a Venezuela concordou em permitir que um consórcio
de companhias petrolíferas russas, lideradas pela Lukoil
e pela Gazprom, se junte à estatal do petróleo venezuelana,
a PDVSA, na exploração do campo de petróleo
da bacia do rio Orinoco, que produz até meio milhão
de barris por dia. O consórcio russo concordou em pagar
um bônus adiantado de US$ 1 bilhão e investir cerca
de US$ 20 bilhões na produção e equipamento.
Chávez apontou para isso e outros acordos similares
como mais uma razão para a Venezuela atualizar seus armamentos.
"A presença de firmas russas, chinesas e espanholas
dá à bacia do Orinoco uma nova conotação
geopolítica em estabelecer os parâmetros de defesa
e soberania", afirmou.
Durante seus encontros com o presidente russo Dimitri Medvedev
e o primeiro ministro Vladimir Putin, Chávez anunciou que
seu governo estenderia seu reconhecimento diplomático à
Ossétia do Sul e Abkházia, que se separaram da Geórgia.
Em agosto de 2008, o governo geórgico do presidente Mikheil
Saakashvili lançou um ataque contra a Ossétia do
Sul, provocando a intervenção russa contra a Geórgia
e uma declaração unilateral de independência
por ambos os territórios, com o apoio de Moscou.
Está claro que Moscou vê seus laços com
Chávez como um meio de retaliação contra
Washington pelo desenvolvimento militar nas fronteiras russas,
e, em particular, contra suas tentativas de trazer a Geórgia
e a Ucrânia para a órbita da OTAN.
No período imediatamente após a guerra do ano
passado entre Rússia e Geórgia, conforme a OTAN
tentava enviar navios para o Mar Negro, a Rússia enviou
um grupo de batalha naval para a costa caribenha da Venezuela
para realizar manobras conjuntas.
Putin fez referência aos objetivos geo-estratégicos
de Moscou em pavimentar uma vinculação com a Venezuela,
dizendo que o apoio de Chávez para a política da
Rússia contribuía em "tornar as relações
internacionais mais democráticas."
Além de Moscou, a viagem de 11 dias de Chávez
o levou para o Irã, Bielorrússia, Turcomenistão,
Líbia e Argélia.
No Irã, Chávez anunciou que a Venezuela começará
a exportar 20.000 barris de gasolina por dia ao país no
próximo mês. O Irã, que tem poucas capacidades
de refino, depende de importações para 40% de sua
gasolina, tornando-se vulnerável a sanções
ocidentais. Além disso a PDVSA terá permissão
para participar na exploração do campo iraniano
de gás Pars do Sul 12, um dos maiores do mundo.
Washington denunciou o acordo Rússia-Venezuela, chamando-o
de um "desafio sério" à estabilidade na
região.
"O que eles querem comprar e o que eles estão comprando
põe para trás todos os outros países da América
do Sul," o porta-voz do Departamento de Estado Ian Kelly
disse aos repórteres na segunda-feira. Ele completou que
Washington se "preocupa com uma corrida armamentista na região."
Na realidade, uma corrida armamentista latino-americana está
acontecendo a algum tempo, em grande parte catalisada pelas políticas
intervencionistas de Washington e pelo impulso dos fabricantes
bélicos dos EUA de arrancar lucros de vendas para as forças
militares da região.
Segundo um estudo conduzido pelo Instituto Internacional de
Estudos Estratégicos de Londres, os gastos militares na
América Latina aumentaram 10 vezes entre 2003 e 2007, de
US$ 4,7 bilhões para US$ 47,2 bilhões.
Em 2008, as vendas de armas na América Latina subiram
novamente, 30% em relação ao ano anterior, chegando
a US$ 51 bilhões. Enquanto os aumentos na taxa de gastos
são dramáticos, o total para toda a América
Latina é de aproximadamente 14 vezes menos que o orçamento
militar dos EUA, que está próximo dos $700 bilhões.
A Venezuela não é a única a elevar seus
gastos militares
Desde 2000, Washington despejou $6 bilhões em assistência
militar na Colômbia, que além do Brasil, tem uma
das maiores e mais bem armadas forças militares na América
Latina. O país recentemente adquiriu 24 caças Kfir
de Israel em uma escalada que disse ter o objetivo de contrapor
as compras venezuelanas.
De acordo com a firma de análise militar Jane, a Venezuela
gastou US$ 3,17 bilhões em suas forças armadas em
2008 1,1% de seu produto interno bruto enquanto
a Colômbia gastou US$12,3 bilhões 5.7% de
seu PIB.
Enquanto isso, o governo brasileiro está preparando
um gasto de US$ 2,65 bilhões em 36 novos caças da
França, que também fornecerá submarinos e
helicópteros para as forças armadas brasileiras.
Se antecipa que o acordo dos caças inclua a transferência
de tecnologia, permitindo que a Embraer, a fabricante de aviões
civis e militares firmada durante a ditadura militar, comece a
produzir caças do próprio país. A Embraer
e outras empresas brasileiras emergiram como exportadores de armas
significativos, particularmente para os países menos desenvolvidos.
Significativamente, o presidente brasileiro Luiz Inácio
Lula da Silva deu basicamente a mesma justificativa para a compra
de caças que Chávez deu para seu acordo armamentista
com Moscou, embora sem a retórica esquentada.
Lula argumentou que o avanço armamentista era necessário
para defender os assim-chamados campos petrolíferos do
pré-sal, na costa atlântica do Brasil.
"Deve sempre passar por nossas cabeças a ideia
de que o petróleo tem sido o foco de muitas guerras e conflitos"
Lula afirmou depois de discutir o acordo de armas com o presidente
francês, Nicolas Sarkozy, na semana passada. "Não
queremos a guerra ou o conflito. [As reservas petrolíferas
do oceano] representam a possibilidade do Brasil se tornar, dentro
de 15 ou 20 anos, uma das principais economias globais".
Embora Washington não tenha sido mencionada, claramente
as guerras contemporâneas nas quais o "petróleo
tem sido o foco" foram travadas pelas forças militares
dos EUA como parte de um impulso de afirmação da
hegemonia dos EUA sobre o Golfo Pérsico e a Bacia Cáspia.
A competição por vendas de armas, sobre as quais
firmas americanas exerceram um verdadeiro monopólio na
América Latina, é apenas parte do enfraquecimento
de Washington na região, com a China e a Europa em particular
rapidamente aumentando os investimentos e trocas à custa
das corporações americanas.
No acordo de bases colombiano e nos planos para o reavivar
da Quarta Frota dos EUA para patrulhar águas latino-americanas,
é evidente que a elite dominante dos EUA está respondendo
ao declínio de seu peso econômico nessa região
assim como em outras com uma confiança crescente
no poderio militar dos EUA.
Em seus acordos com Moscou, Chávez ecoa a política
da Guerra Fria de muitos regimes nacionalistas de "esquerda",
buscando assegurar o apoio de uma "superpotência"
contra a outra. Nesse caso, porém, o regime capitalista
mafioso de Moscou se provará um aliado bem mais frágil
e menos confiável que a velha burocracia stalinista.
Quanto aos bilhões de dólares em novas armas,
o impacto dentro da Venezuela será o de fortalecer o peso
social e político das forças armadas do país,
instrumento sobre o qual Washington tradicionalmente se baseou
para implementar mudanças de regime contra-revolucionárias
na região.
[traduzido por movimentonn.org]
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