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A vida e a carreira do ator Corin Redgrave
Por David Walsh e David North
21 de abril de 2010
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com o autor
Publicado originalmente em inglês em 12 de abril de
2010, no WSWS
O ator britânico Corin Redgrave morreu no dia 6 de abril,
num hospital do sul de Londres, a três meses de completar
71 anos. Ele foi diagnosticado com câncer de próstata
em 2000 e sofreu um grave ataque cardíaco em 2005. Se recuperou
o suficiente, porém, para retornar aos palcos em 2009,
e ao que parece estava envolvido em discussões sobre futuros
projetos teatrais.
De acordo com relatos da mídia, ele adoeceu novamente
há pouco tempo e faleceu rodeado por membros de sua família,
incluindo a esposa, Kika Markham.
Redgrave, assim como sua irmã Vanessa, estava entre
os mais proeminentes membros de sua geração que
gravitaram em torno do movimento trotskista inglês - a Liga
Trabalhista Socialista (mais tarde Partido Revolucionário
dos Trabalhadores, WRP), liderada por Gerry Healy - no final dos
anos de 1960 e início de 1970. Muitos sacrificaram fama
e carreira para servir ao que acreditavam ser o futuro socialista.
O engajamento desses artistas no movimento marxista foi o ápice
de um período de extraordinária efervescência
cultural e intelectual na Grã-Bretanha. O imperialismo
britânico saiu economicamente falido da Segunda Guerra Mundial.
O Império estava se desmantelando. A classe trabalhadora
entrava em movimento - e seu nojo pela aristocracia decadente,
assim como pelo estamento dominante em geral, encontrou expressão
artística.
A falta de propósito da vida burguesa e a hipocrisia
das instituições britânicas se tornaram alvos
de uma crítica cultural implacável - enraivecida,
sarcástica, iconoclasta e rebelde - dos chamados "Homens
Jovens Raivosos" de meados de 1950. Era um grupo de escritores
da classe trabalhadora e da baixa pequena burguesia, que incluía
John Osborne, Kingsley Amis, John Braine e Alan Sillitoe, e expressava
amargura e desilusão quanto à sociedade britânica.
Richard Burton foi um dos mais proeminentes e talentosos atores
que se identificaram com essa corrente.
A "Nova Onda Britânica" do início da
década de 1960 levou para o cinema e televisão boa
parte desses temas, que apareceram sob uma forma mais distintamente
esquerdista em obras como This Sporting Life, de Tony Anderson,
Saturday Night and Sunday Morning, de Karel Reisz, e The
Loneliness of the Long Distance Runner, de Tony Richardson
(os últimos dois filmes baseados em obras de Sillitoe).
Novos rostos e vozes foram associados a este "neo-realismo",
incluindo Albert Finney, Tom Courtenay, Alan Bates, Rita Tushingham
e Richard Harris.
A produção do período era artisticamente
desigual, mas em geral resoluta e provocativa. Com todas as suas
limitações, grande parte dela ainda é lembrada,
e parte do seu imaginário permanece bastante pungente.
Neste contexto, o cinema britânico e o teatro olhavam para
a vida da classe trabalhadora de um modo que era, na sua melhor
forma, realista e livre de sentimentalismo. De um modo ou de outro
essas qualidades estavam muito mais presentes na Grã-Bretanha
do que nos EUA.
Aquele foi um momento raro, expressivo de um estado de crescente
ebulição revolucionária. Diante disso, é
preciso frisar o papel extraordinário da Liga Trabalhista
Socialista (SLL) e especialmente de Healy. Não foi por
acidente que tantos artistas se aglutinaram ao redor do SLL. Era
o único partido revolucionário da Grã-Bretanha
- e também o único partido honesto. O movimento
trotskista britânico, no qual Healy teve o papel decisivo,
emergiu de décadas de luta contra o Partido Trabalhista
e o stalinismo. Além do mais, ele trouxe para uma multitude
de artistas, escritores e intelectuais algo que de outra forma
estaria ausente - uma perspectiva histórica.
Por muitos anos, Healy, cujo papel foi ficcionalmente documentado
por Trevor Griffiths em sua peça de 1973 The Party,
sustentou uma perspectiva revolucionária socialista diante
de todos os arrivistas. Corin Redgrave, é claro, veio de
uma família de atores com raízes profundas na profissão.
Seu avô paterno, Roy Redgrave, foi um ator do teatro e do
cinema mudo que morreu na Austrália em 1922. Sua avó
paterna, Margaret Scudamore, também atuava.
O pai de Corin, Michael Redgrave (1908-1985), foi um dos mais
distintos atores do teatro e do cinema, afirmação
que se mantém mesmo quando o colocamos ao lado de outros
notáveis de sua geração (Laurence Olivier,
John Gielgud, Ralph Richardson, Alec Guinness). A esposa de Michael,
Rachel Kempson (1910-2003), também foi uma atriz celebrada
dos palcos e telas.
As irmãs de Corin Redgrave, Vanessa (nascida em 1937)
e Lynn (nascida em 1943), são ambas atrizes proeminentes,
e a geração seguinte produziu Joely e Natasha Richardson
(filhas de Vanessa e do diretor de cinema Tony Richardson) - a
última morreu em um trágico acidente de ski no ano
passado - e Jemma Redgrave, filha de Corin e sua primeira esposa.
Parece razoável sugerir que Corin Redgrave viveu (e atuou)
sob a sombra de seu pai e de sua famosa irmã mais velha
por boa parte da vida, ou, em todo caso, que esta era a percepção
pública que foi obrigado a enfrentar.
Depois de se formar no King´s College, em Cambridge,
Redgrave começou sua carreira de ator no distinto Royal
Court Theatre de Londres em 1961, com 22 anos, em uma produção
de Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare.
A primeira performance cinematográfica ou televisiva em
que apareceu nos créditos finais foi um episódio
de "The Avengers", em 1964.
Depois ele apareceu com papéis secundários em
diversos filmes de Vanessa Redgrave, incluindo A Man for All
Seasons (1966), The Charge of the Light Brigade (1968),
e Oh! What a Lovely War (1969), e ao lado de sua irmã
Lynn em The Deadly Affair (1996). Redgrave interpretou
também um papel em La ragazza com la pistola (1968),
de Mario Monicelli, estrelado por Monica Vitti. Trechos deste
filme que em certos momentos é bastante divertido, assim
como partes de A Man for All Seasons, estão disponíveis
no YouTube.
O jovem Redgrave impressiona por sua presença e inteligência,
acompanhada por um pouco de rigidez e auto-consciência.
Ele não possuía o carisma, a presença impositiva,
e talvez nem mesmo o talento natural de seu pai e irmã
- precisava portanto investir mais trabalho em sua atuação.
Ou, colocando de outro modo, era mais pensativo.
Um ator profissional é obrigado a trabalhar com todo
tipo de material - bom, ruim e indiferente. Para que dê
tudo de si, ele precisa estar mais ou menos espiritualmente alinhado
com a obra em questão. Vendo o jovem Redgrave, não
se pode evitar totalmente a suspeita de que, frequentemente e
com razão, ele considera suas falas inadequadas ou mesmo
banais. Ele tenta parecer convencido do caráter inefável
dessas falas, mas muitas vezes falha. Com frequencia ele parece
ser mais inteligente que o material, uma dificuldade para qualquer
ator.
Redgrave participou de manifestações anti-Guerra
do Vietnã em Londres no final da década de 1960,
várias delas lideradas por sua já proeminente irmã.
Se deparou com a Liga Trabalhista Socialista em torno de 1970.
Já era suficientemente engajado para interpretar um papel
(como narrador) no primeiro grande esforço empreendido
por artistas que se aglutinaram em torno do SLL na numerosa "Marcha
Anti-Tory" de fevereiro de 1971, no Alexandra Palace, onde
foi encenado um musical satírico sobre "200 anos de
História Trabalhista."
Vale lembrar mais uma vez alguns dos nomes que gravitaram em
torno do SLL: os diretores de cinema e televisão Ken Loach
e Roy Battersby; os escritores Jim Allen, Trevor Griffiths, John
Arden, Margaretta D´Arcy, David Mercer, John McGrath, Colin
Welland, Neville Smith, Tom Kempinski e Troy Kennedy Martin; os
produtores/editores Tony Garnett, Kenith Trodd e Roger Smith;
inúmeros atores, incluindo os Redgraves, Tony Selby, Jack
Shepherd, Frances de la Tour, Malcolm Tierney, David Calder, David
Hargreaves etc.; o jornalista Francis Wyndham; o artista e arquivista
fotográfico David King; e incontáveis outros. Aqueles
que ao menos participaram de performances teatrais ou eventos
dos Jovens Socialistas, ou emprestaram seus nomes para atividades
de arrecadação de fundos, incluem os atores Judy
Geeson, Eleanor Bron, Judi Dench, Glenda Jackson, Marty Feldman,
Dudley Moore, Suzi Kendall, Helen Mirren, Roy Kinnear e Anthony
Booth; os poetas Adrian Mitchell e Christopher Logue; o comediante
Spike Milligan; os cantores Annie Ross e Paul Jones (ex-vocalista
da Manfred Mann); as bandas de rock Slade e UB40, entre outras;
a lenda da gaita Larry Adler; o apresentador de talk show Michael
Parkinson; e assim em diante.
Corin Redgrave esteve entre aqueles artistas e intelectuais
que fizeram o esforço mais sério para estudar o
marxismo e o trotskismo, e conferir à sua atividade uma
base teórica. Muitos dos atores que participaram das atividades
do SLL-WRP, incluindo sua irmã Vanessa, se contentavam
em confiar na intuição. Para simplificar a questão,
pode-se dizer que para aqueles que os conheciam, enquanto Vanessa
Redgrave estava sempre atuando, seu irmão estava sempre
pensando.
Vanessa sempre foi capaz de recorrer a seu suprimento inesgotável
de gestos dramáticos e floreios. Ela poderia ser, a qualquer
momento, Antígona, Cleópatra ou "A Mulher Do
Mar" da peça de Ibsen. Corin era praticamente o exato
oposto. Um homem tímido e reservado, ele falava baixo,
com longas pausas enquanto procurava pelas palavras corretas,
tragando fundo a fumaça de um cigarro. Corin Redgrave começou
a ter uma participação séria na vida política
em 1971. Em primeiro de julho daquele ano, duas semanas antes
de seu aniversário de 32 anos, como parte de uma série
de comentários de leitores para o jornal diário
da Liga Trabalhista Socialista, Redgrave explicou "Porque
leio o Workers Press":
"Leio o Workers Press para saber o que está
acontecendo. Em quatro páginas ele se aproxima mais da
essência da situação do que outros jornais
fazem com 20 páginas. Mas pensando bem, a essência
da situação não é objeto de outros
jornais.
"Sob a máscara de `reportagem objetiva e neutra`
o propósito deles é cegar os leitores para qualquer
necessidade ou possibilidade de mudar o modo como as coisas são,
salvo os traços mais supérfluos.
(...)
"Os jornais de Fleet Street [rua que abrigava os principais
jornais ingleses até a década de 1980] têm
o ciclo de vida de uma efemérida. O que começa como
informação termina como sucata morta.
"Mas o conhecimento, diferente da informação,
é uma questão de desenvolvimento contínuo.
Por isso as matérias nas páginas internas [do Workers
Press] têm tanto valor.
"Elas abordam questões da história, filosofia
e ciência, e chegam até seu cerne."
Na capa da edição de 12 de julho de 1971 do Workers
Press encontramos uma foto comovente. Ela mostra Corin e Vanessa
Redgrave, Gerry Healy e Gerry Caughey, um grevista vitimizado
pela Pilkington, uma companhia vidreira. Na foto Vanessa se veste
vistosamente, e já naquela época - embora seu relacionamento
com o movimento ainda fosse bastante tênue - domina a imagem.
Na verdade, como Vanessa Redgrave uma vez reconheceu, foi Corin
que submeteu as dúvidas e evasões da irmã
a uma crítica persistente, e finalmente fez ela entrar
no SLL.
Os Redgraves se viram alinhados com a perspectiva revolucionária
do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) e
sua orientação de construção dentro
da classe trabalhadora de um movimento baseado em princípios
socialistas, e tentaram agir com base nessa convicção.
Esse processo, porém, tem múltiplos aspectos.
O ressurgir da luta de classes internacional e a ebulição
artística que isso gerou aproximaram muitos intelectuais
para o movimento trotskista na Grã-Bretanha. As condições
encorajaram e tornaram possível o envolvimento de toda
uma camada social, até mesmo de elementos da "aristocracia"
cultural como os Redgraves, no campo da política revolucionária.
Mas isso não resolveu todas as dificuldades contidas
na conjuntura política. O desenvolvimento subsequente de
Corin Redgrave ficou preso nas crescentes contradições
do SLL ("WRP" após novembro de 1973). Tais contradições,
por sua vez, estavam ligadas às condições,
amplamente desfavoráveis, que a tendência marxista
enfrentava: a dominância continuada das burocracias Trabalhista,
stalinista e sindical sobre amplos setores da classe trabalhadora
européia e internacional; o relativo isolamento das forças
genuinamente trotskistas.
Sérios problemas políticos estavam surgindo no
SLL do começo da década de 1970, quando os Redgraves
e a maioria dos artistas ainda eram muito inexperientes - não
apenas em termos de prática política, mas também
de teoria. Eles tinham grande entusiasmo e em alguns casos eram
extremamente dedicados - mas sabiam pouco sobre a história
do movimento trotskista internacional. Além do mais, embora
nem Vanessa nem Corin Redgrave fossem esnobes, sua experiência
de vida não incluiu qualquer contato sério com as
lutas da classe trabalhadora.
Por um certo período, Healy e o SLL estiveram virtualmente
sozinhos em sua infatigável determinação
de construir um partido revolucionário independente das
burocracias trabalhistas, nacionalistas burguesas, castristas,
maoístas etc. O SLL, depois de sua resistência resoluta
no início da década de 1960, no início da
década de 1970 começou a escorregar para um rumo
nacional-oportunista. A cisão obscura com a francesa Organização
Comunista Internacionalista (OCI) em 1971, principal aliada na
luta contra o oportunismo pablista no começo de 1960, se
somaram às dificuldades práticas e teóricas
do SLL.
Healy e a liderança do SLL desenvolveram uma perspectiva
cada vez mais nacionalista, procedendo como se sua tarefa primária
fosse a acumulação de forças e recursos para
a revolução britânica, e colocando em segundo
plano as questões práticas e teóricas vinculadas
à construção de um partido internacional.
O líder do SLL começou a indicar, em seus discursos,
uma orientação mais e mais exclusivamente voltada
aos interesses e necessidades dos "trabalhadores ingleses".
A crise política que se desenvolveu dentro do SLL/WRP
certamente minou a educação política de Corin
Redgrave e outros artistas do partido. Além disso, Redgrave
virtualmente parou de atuar - parcialmente como um resultado de
sua aparente inclusão na lista negra da indústria.
Entre meados da década de 1970 e da de 1990 ele tem apenas
um punhado de créditos em filmagens televisivas e cinematográficas.
A concepção de que a atividade artística
e a política revolucionária se excluem uma à
outra, que não era a política oficial do SLL, mas
na prática determinou as escolhas feitas por um número
de membros artistas-intelectuais, é falsa. Especialmente
no caso de alguém como Redgrave, para quem atuar estava
"no sangue", tal concepção necessariamente
teria consequências prejudiciais e mesmo debilitantes.
Nos primeiros dias, Corin participou de várias peças
de fundo histórico encenadas pelo grupo dos atores: sobre
a revolução de Cromwell, a Revolução
Russa, os anos da Depressão, a repressão stalinista
na URSS etc. O valor artístico dessas obras, algumas delas
co-escritas ou dirigidas por ele, era variado. A sátira
divertida e direta, assim como um sério esforço
de recriação de eventos históricos críticos,
co-existiam com uma agit-prop bastante crua. Ambos os Redgraves
foram elevados rapidamente, rapidamente demais, para a liderança
do WRP em meados da década de 1970, eventualmente se tornando
membros de seus comitês Central e Político. A eleição
do Partido Trabalhista em 1974 precipitou uma crise no WRP, levando
à saída de Alan Thornett e de uma parte dos quadros
sindicais, que haviam organizado uma oposição à
Healy sobre bases essencialmente direitistas. Após essa
crise, os Redgraves e outros da cena artística assumiram
um papel de ainda maior protagonismo.
Uma das fraquezas principais da interação dos
líderes do WRP com os artistas do começo da década
de 1970 era a falha em sondar qualquer um dos problemas teóricos
e estéticos levantados por Trotsky e Aleksandr Voronsky
nos anos de 1920 e 1930. Os métodos mão-pesada stalinistas
da "cultura proletária" e do "realismo socialista"
eram imediatamente rejeitados pelos trotskistas britânicos,
mas essa rejeição não era acompanhada de
qualquer esforço sistemático para criticar ou transcender
os meios um tanto provincianos com os quais os atores e escritores
britânicos se sentiam confortáveis: de um lado, o
drama de "pia de cozinha" (isto é, realismo empírico,
superficial), e, de outro, o majestoso estilo declamatório,
com todas os seus pontos fortes e fraquezas, associado à
montagem de obras de Shakespeare e outros clássicos.
Ao final dos anos de 1970 e início da década
de 1980, os que trabalhavam com Redgrave no movimento podiam ver
que ele passava por uma verdadeira crise política e pessoal.
Tendo recebido uma atribuição como um dos organizadores
do partido, ele tropeçava constantamente - e, para piorar
as coisas, era frequentemente o objeto dos acessos raivosos e
subjetivos de Healy.
O tratamento dado aos Redgraves e outros por Healy assumiu,
conforme os anos da década de 1970 se desenrolaram, um
caráter ainda mais oportunista. Depois da vitória
do Partido Trabalhista em 1974, e da "normalização"
geral da vida política européia, incluindo a traição
da revolução portuguesa em 1974 e a transição
relativamente pacífica do franquismo para a democracia
na Espanha, Healy e seus colegas na liderança do WRP, Michael
Banda e Cliff Slaughter, se tornaram cada vez mais pessimistas
sobre as capacidades revolucionárias da classe trabalhadora
inglesa e européia. Eles passaram a olhar com entusiasmo
crescente para os movimentos burgueses-nacionalistas, especialmente
no Oriente Médio, e para a burocracia sindical na Grã-Bretanha.
O nome Redgrave, particularmente o de Vanessa, se tornou um
cartão de visitas importante, abrindo ou parecendo abrir
uma variedade de portas políticas e financeiras.
O que um dia foi o entusiasmo espontâneo de atores e
escritores no começo da década de 1970 para a produção
de diversos eventos teatrais e musicais se tornou algo cada vez
mais cínico. Em um espetáculo encenado no Centenário
de Marx do WRP em 1983 (para marcar o centésimo aniversário
da morte de Marx), por exemplo, "estrelas" entraram
de pára-quedas no último momento para substituir
atores menos conhecidos que haviam passado semanas ensaiando a
peça. Isso foi parte de uma degeneração oportunista
geral.
Ao final da década de 1970, Corin Redgrave havia se
tornado um dos principais porta-vozes do partido. Ele foi obrigado
a representar o WRP quando o partido foi alvo de ataques do Estado
e da mídia ingleses.
Em setembro de 1975, o Observer publicou um artigo difamatório
alegando que o WRP era um grupo "extremista" que ocultava
um depósito de armas em seu Colégio de Educação
Marxista. Essa provocação foi planejada para coincidir
com uma invasão policial ao Colégio. A campanha
do WRP para se defender ganhou o apoio amplo de largos setores
do movimento operário organizado e de largos setores da
comunidade intelectual e artística.
O partido processou o Observer por calúnia, e o caso
foi a julgamento em outubro-novembro de 1978.
Redgrave, ao lado de sua irmã e de Roy Battersby, tiveram
o papel principal no caso do WRP. Healy e Banda não apareceram.
Apesar das dificuldades de fornecer evidências concretas
para sustentar um caso como esse, Redgrave fez concessões
demais na direção de provar a "respeitabilidade"
do WRP e sua repugnância pela violência.
No início da década de 1980, Redgrave sofreu
uma inevitável crise pessoal e tentou retornar ao trabalho
de ator, mantendo paralelamente suas atividades políticas.
O WRP na época estava num estado de crise severa, e pela
primeira vez enfrentava oposição política
e teórica a seu rumo oportunista dentro do Comitê
Internacional da Quarta Internacional, vinda da Liga dos Trabalhadores
dos EUA.
Redgrave, que tinha pouco contato com o movimento trotskista
internacional e cujo estudo do marxismo e da história do
trotskismo havia sido interrompido ou feito pouco progresso no
ambiente oportunista do WRP, não compreendeu os problemas
que surgiram da cisão de 1985-1986. Ele retornou ao trabalho
cotidiano no WRP numa péssima época: conforme a
crise emergia.
Estranhamente, ele esteve ao lado de Healy em agosto de 1985
e procurou enganar os delegados do CIQI com um relatório
que falsificava os motivos da crise financeira, que havia surgido
repentinamente. Redgrave saiu do movimento trotskista junto com
Healy no outono de 1985. Para todos os efeitos, esse foi o fim
de sua vida política séria.
Depois da saída de Redgrave do WRP, existe apenas uma
série de esforços peculiares e abortivos de sua
parte no sentido de manter um grupo de atores em torno de Healy
no efêmero "Partido Marxista", e então,
depois, há o deslize inevitável para o liberalismo
social. Ele manteve um posicionamento de protesto com relação
à várias questões - a questão palestina,
o racismo, a Chechênia e a "paz mundial". Como
aconteceu com tantos na esquerda, encontrou o caminho de volta
para a marca bastante comum da filantropia britânica.
Redgrave também encontrou o caminho de volta para o
teatro. Ele cavou um nicho como ator secundário - no qual
atuou bem e, com frequência, simpateticamente. Talvez, em
algum nível pessoal, ele tenha tirado algo das conflitos
e contradições pelos quais passou. E talvez haja
alguma verdade nos relatos da imprensa sobre sua vida que apontam
para o efeito "liberador" da morte de seu pai, em 1985,
sobre sua própria personalidade artística.
Após sua "reabilitação" ao final
da década de 1980, quando não era mais verdade (palavras
do Daily Telegraph) que "a maioria dos diretores o
considerava [politicamente] quente demais para segurar",
ele ressurgiu com sucesso no teatro, televisão e cinema.
Em obras como In the Name of the Father (1993), Four
Weddings and a Funeral (1994), Persuasion (1995) e The
Forsyte Saga (2002), ele atuou admiravelmente. Na frase generosa
de um obituário da BB,c "ele floresceu mais tarde
que Vanessa, que logo se tornou uma estrela internacional, mas
ainda assim passou a ser considerado um dos maiores atores secundários
do país."
No que diz respeito aos seus posicionamentos políticos
e sociais, o quadro geral ficou claro - Corin Redgrave se conformou
em maior ou menor grau com o status quo, e vice-versa. Se ele
se desviou tanto quanto sua irmã, que ajoelhou diante do
Príncipe William e da família real numa cerimônia
de premiação recente, nós não sabemos,
mas esta não é a questão mais crítica.
A evolução dos Redgraves e a evolução
de muitos dos artistas e intelectuais atraídos pela política
revolucionária na Grã-Bretanha no início
da década de 1970 têm seu elemento trágico.
Essa era coletivamente uma enorme e talentosa coleção
de seres humanos. De fato, a melhor de sua geração.
Indivíduos são responsáveis pelo que fazem:
tanto pelo "bem" quanto pelo "mal". Mas o
que eles fazem é fortemente influenciado e moldado pelos
eventos e processos que os circundam. Pagamos tributo ao auto-sacrifício
e outras das melhores qualidades de Corin Redgrave e da geração
de artistas da qual ele foi um representante significativo.
(traduzido por movimentonn.org)
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