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A história que "une" o Haiti aos EUA
Por Bill Van Auken
18 de janeiro de 2010
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com o autor
Publicado originalmente em 15 de janeiro de 2010 no WSWS.
Em sua declaração sobre o terremoto haitiano
de quarta-feira, o presidente Barack Obama referiu-se à
"longa história que une" os dois países.
Nem ele nem os meios de comunicação dos EUA, no
entanto, têm demonstrado qualquer inclinação
para investigar a história das relações EUA-Haiti
e a conduta do primeiro na presente catástrofe que confronta
o povo haitiano.
Em vez disso, a hesitação e a pobreza, que têm
desempenhado um papel importante na condução do
número de mortos para dezenas, senão centenas de
milhares de pessoas, são apresentadas como um estado natural
das coisas e, às vezes, inclusive como culpa dos próprios
haitianos. Os Estados Unidos são retratados como um benfeitor
abnegado, pronto para vir para o auxílio do Haiti com doações,
equipes de salvamento, navios de guerra e fuzileiros navais.
Em um editorial cínico e desonesto, o New York Times
afirmou quinta-feira: "Mais uma vez o mundo chora com o Haiti",
um país que continua a ser caracterizado pela "pobreza,
o desespero e a disfunção, elementos que seriam
uma catástrofe em qualquer outro lugar, mas no Haiti são
a norma".
E o editorial prossegue: "Olhe para o Haiti e verá
o que gerações de desgoverno, pobreza e conflitos
políticos farão em um país".
Em um artigo mais desenvolvido sobre a catástrofe haitiana,
o jornal acrescenta que o país "é conhecido
pelos seus muitos homens-em-desgraça sua extrema
pobreza, sua luta política e a propensão para a
insurreição".
Em um editorial mais curto e ainda mais desprezível,
o Wall Street Journal comemora o fato de que os militares
dos EUA irão desempenhar o papel principal na resposta
de Washington ao terremoto como um "lembrete fresco de que
o alcance do poder dos Estados Unidos coincide com o alcance de
sua bondade."
Ele continua a traçar uma comparação obscena
entre o terremoto haitiano e o que atingiu o sul da Califórnia,
em 1994, no qual 72 pessoas morreram. "A diferença",
afirma o jornal, "é o trabalho de uma sociedade geradora
de riqueza e respeitadora da lei, que pode pagar, entre outras
coisas, seus gastos, com base na lei adequada".
A mensagem é clara. Os haitianos têm apenas a
si próprios para culpar pelas centenas de milhares de mortos
e feridos, porque não conseguiram criar riqueza suficiente
e faltam com respeito diante da lei e da ordem.
O que deliberadamente é obscurecido nesta comparação
é a real relação, que evoluiu ao longo de
mais de um século, entre a "geração
de riqueza" nos Estados Unidos e a pobreza no Haiti. É
uma relação baseada no uso da força para
defender os interesses predatórios do imperialismo dos
EUA em um país historicamente oprimido.
Se a administração Obama e o Pentágono
persistirem com os planos relatados de enviar uma força
expedicionária de fuzileiros ao Haiti, isto marcará
a quarta vez nos últimos 95 anos que as forças armadas
dos EUA ocupam a empobrecida nação caribenha. Desta
vez, como no passado, ao invés de ajudar o povo haitiano,
a finalidade essencial de tal ação militar será
defender os interesses dos EUA e proteger contra o que o Times
se refere como "propensão para a insurreição."
As raízes deste relacionamento se voltam para o nascimento
do Haiti como a primeira república negra independente em
1804, o produto de uma bem sucedida revolução de
escravos liderada por Toussaint Louverture, e a subseqüente
derrota de um exército francês enviado por Napoleão.
As classes dominantes do mundo nunca perdoaram o Haiti pela
sua vitória revolucionária. Ele foi submetido a
um embargo mundial que foi liderado pelos Estados Unidos, que
temiam que o exemplo haitiano pudesse inspirar uma revolta semelhante
nos estados escravistas do sul. Foi somente com a secessão
do sul e a eclosão da Guerra Civil que o Norte reconheceu
o Haiti quase 60 anos após a sua independência.
Desde o início do século 20, o Haiti caiu sob
o domínio de Washington e da burguesia (principalmente
financeira) norte-americana, cujos interesses eram defendidos
enviando fuzileiros para realizar uma ocupação que
continuou por quase 20 anos, mantida através da sangrenta
repressão à resistência haitiana.
Os fuzileiros saíram apenas após a efetuação
da "Haitinização" como o New York
Times se referiu na época a guerra contra o povo
haitiano pela construção de um exército dedicado
à repressão interna.
Posteriormente, Washington apoiou a ditadura de 30 anos dos
Duvaliers, que começou com a chegada ao poder de Papa Do,c
em 1957. Enquanto dezenas de milhares de haitianos morreram nas
mãos dos militares e dos temidos Tontons Macoute, o imperialismo
dos EUA viu a ditadura assassina como um baluarte contra o comunismo
e a revolução no Caribe.
Desde as revoltas de massa, que derrotaram os Duvaliers em
1986, sucessivos governos dos EUA, tanto Democratas quanto Republicanos,
têm procurado reconstruir um estado cliente confiável
capaz de defender os mercados e os investimentos das empresas
dos EUA atraídas por salários de fome, bem como
a propriedade e a riqueza da elite governante haitiana. Isto implica
evitar qualquer tipo de desafio a uma ordem sócio-econômica
que mantém 80% da população na miséria.
Esse esforço continua até hoje sob a tutela de
Bill e Hillary Clinton respectivamente, representante especial
da ONU no Haiti e Secretária de Estado dos EUA que
juntos têm sangue haitiano em suas mãos.
Washington apoiou dois golpes e enviou tropas dos EUA de volta
para o Haiti duas vezes nos últimos 20 anos. Ambos os golpes
foram organizados para derrubar Jean-Bertrand Aristide, o primeiro
presidente haitiano a ser eleito pelo voto popular e sem a aprovação
de Washington. Juntos, os golpes de 1991 e 2004 custaram a vida
de pelo menos 13.000 haitianos. Na derrubada de 2004, Aristide
foi forçosamente transportado para fora do país
por forças dos EUA.
Essas tropas americanas, sendo necessárias no Iraque,
foram retiradas do Haiti em 2004, deixando o trabalho interno
de repressão permanente nas mãos da "força
de paz das Nações Unidas", com de 9.000 soldados
dirigidos pelo exército brasileiro.
Apesar da capitulação de Aristide às exigências
do Fundo Monetário Internacional e sua vontade de compromisso
com Washington, o apoio da massa atraída com a sua retórica
anti-imperialista o tornou um anátema para as elites dominantes
em Washington e em Porto-Príncipe. Sob as ordens do governo
Obama, ele está impedido de retornar ao Haiti e seu partido
político, Fanmi Lavalas, continua na ilegalidade.
Esta é a história real e contínua que,
como Obama disse, une o Haiti ao imperialismo dos EUA, o qual
tem enorme responsabilidade pelas condições desesperadoras
que têm agravado o massacre causado pelo terremoto.
Há, no entanto, outros laços que os unem e são
profundamente sentidos, conforme a imensidão da tragédia
no Haiti se desenrola. Há mais de meio milhão de
haitianos oficialmente morando nos EUA e, sem dúvida, centenas
de milhares de pessoas que estão em situação
irregular. Sua presença concretiza os interesses de classe
e de solidariedade que unem os trabalhadores haitianos e os norte-americanos.
Juntos, é sua tarefa varrer as condições
de pobreza e devastação nos dois países,
juntamente com o sistema do lucro capitalista, que os criou.
[traduzido por movimentonn.org]
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