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O debate sobre "armar os rebeldes"
Washington se prepara para intensificar a guerra na Líbia
Por Bill Van Auken
4 de abril de 2011
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Publicado originalmente em inglês em 31 de março
de 2011
O debate público que está acontecendo em Washington
e na mídia americana sobre "armar os rebeldes"
na Líbia aponta para uma intensificação dramática
da guerra liderada pelos EUA.
O presidente Barack Obama e a secretária de Estado Hillary
Clinton, seguidos por seus colegas britânicos, o primeiro-ministro,
David Cameron, e o ministro de Relações Exteriores,
William Hague, nos últimos dois dias responderam de maneira
quase idêntica às perguntas sobre o armamento das
forças anti-Gaddafi, o que eles não descartam.
O debate se intensificou em face de um crescente desastre na
intervenção liderada pelos EUA. Forças armadas
anti-Gaddafi realizaram uma retirada precipitada depois de enfrentar
a resistência de ambas as forças militares leais
ao governo, em Tripoli e civis armados hostis à oposição
apoiada pelos EUA. De acordo com relatos da Líbia, eles
têm sido empurrados de volta para a cidade estratégica
de Ajdabiya, uma junção de rodovias, o lugar de
alguns dos mais pesados bombardeios dos EUA-OTAN.
O avanço anterior de cerca de 300 quilômetros
ao longo da costa do Mediterrâneo, que foi comemorado pelos
governos ocidentais e pela mídia, foi inteiramente devido
a ataques aéreos realizados por aviões dos EUA e
da OTAN, que efetivamente atuaram como a força aérea
dos chamados "rebeldes."
Forças que apoiam o regime de Gaddafi fizeram um recuo
tático ao invés de serem destruídos no ar.
Após uma semana de bombardeios e ataques com mísseis,
na semana passada, o Pentágono enviou em voos baixos, aeronaves
AC-130 fortemente armadas e aviões de ataque A10. Estas
aeronaves já foram utilizadas em apoio aéreo de
efeito mortal junto às tropas dos EUA desde a Guerra do
Vietnã até o massacre de Fallujah no Iraque e nas
operações de contra-insurgência no Afeganistão.
O avanço "rebelde" correspondeu, essencialmente,
a um prato feito com os combatentes apoiados pelos EUA não
encontrando qualquer oposição. "Não
houve resistência", disse Sheydani Faraj, um dos combatentes
anti-Gaddafi, ao New York Times. "Não havia
ninguém na nossa frente. Não há luta."
Isso mudou na terça-feira, quando os rebeldes apoiados
pelos EUA se aproximaram da cidade de Sirte, cidade natal de Gaddafi.
Na aldeia de Bin Jawad, cerca de 100 quilômetros a leste
de Sirte, de acordo com uma notícia da repórter
Nancy Youssef, do jornal McClatchy, as mulheres foram mandadas
embora de ônibus. "Assim que as mulheres ficaram fora
de perigo", diz o artigo, "os homens começaram
a atirar contra os rebeldes de suas casas."
Na quarta-feira, a fuga desordenada continuou com as cidades
produtoras de petróleo Ras Lanuf e Brega caindo sob controle
do governo e as forças apoiadas pelos EUA fugindo de volta
para Adjdabiya. Como Youssef relatou: "revelou-se que a maioria
[dos 'rebeldes'] não tinha a intenção de
lutar quando era o caso."
Na tentativa de superar as limitações desta força,
Washington já enviou agentes encarregados de organizar
os "rebeldes" em uma unidade armada capaz de travar
uma guerra civil. Como o New York Times noticiou nesta
quarta-feira, a Agência Central de Inteligência mobilizou
"agentes clandestinos na Líbia para reunir informações
para ataques aéreos militares e fazer contatos com os rebeldes."
Além disso, o Times relata, citando oficiais
britânicos: "dezenas de britânicos das forças
especiais e oficiais de inteligência da MI6 estão
trabalhando dentro da Líbia."
A emissora ABC News, por sua vez, informou que o presidente
Barack Obama assinou quarta-feira uma declaração
presidencial secreta "autorizando operações
ocultas para ajudar ao trabalho na Líbia."
"A descoberta presidencial discute uma série de
maneiras para ajudar a oposição contra Muammar Gaddafi,
que autoriza algum tipo de assistência agora e cria um quadro
jurídico para atividades mais fortes no futuro," a
rede relata.
É neste contexto que o rufar dos tambores para "armar
os rebeldes" começou. A frase serve para esconder
o fato de que qualquer tentativa de fornecer armamento significativo
para as forças desorganizadas com sede na cidade de Benghazi
ao leste da Líbia implicaria a organização
e preparação de "treinadores", "assessores"
e unidades de forças especiais das tropas de combate dos
EUA, fazendo uma paródia da promessa feita na segunda-feira
por Obama de que ele "não colocaria as tropas terrestres
na Líbia".
Como o Times relata, citando funcionários não-identificados
do governo: "continuar a fornecer armas envolverá
os Estados Unidos em uma prolongada guerra civil, porque os rebeldes
teriam de ser treinados para usar quaisquer armas, até
mesmo fuzis relativamente simples e armas leves contra veículos
blindados."
A proposta de fornecer armas, o jornal acrescenta, "traz
ecos de esforços americanos anteriores para armar os rebeldes,
em Angola, Nicarágua, Afeganistão e outros países,
muitos dos quais saíram pela culatra."
Todos os exemplos citados pelo Times foram operações
contrarrevolucionárias montadas pela CIA. Em Angola, a
agência despejou armas, dinheiro, assessores e as tropas
sul-africanas para dar suporte ao movimento UNITA de Jonas Savimbi,
alimentando uma guerra civil que custou a vida de centenas de
milhares.
Na Nicarágua, a CIA dirigiu os infames contra-mercenários
em uma guerra de terror contra a população matando
mais de 40.000 pessoas, a maioria civis. E no Afeganistão,
a CIA armou e financiou os mujahidin islâmicos contra o
governo apoiado pelos soviéticos em Cabul, em uma guerra
que deixou mais de um milhão de afegãos mortos.
É cada vez mais evidente que o conflito armado na Líbia
não é uma "revolução", um
"movimento pró-democracia" ou uma "intervenção
humanitária", mas sim uma operação similar
executada pela CIA e suas agências de inteligência
aliadas. O seu objetivo não é libertar o povo líbio,
e sim instalar um regime mais flexível em Tripoli que vai
garantir aos EUA o controle da produção de petróleo
no país e na região.
A discussão sobre armar as forças anti-Gaddafi
é dominada pelas mesmas mentiras e duplicidade que têm
caracterizado a intervenção dos EUA desde o início.
Oficialmente, a OTAN não está contemplando tal
ação. O Secretário Geral da OTAN, o político
dinamarquês de extrema-direita, Anders Fogh Rasmussen, insistiu
em entrevista à CNN: "O mandato da ONU autoriza a
aplicação de um embargo de armas. Nós não
estamos na Líbia para armar pessoas, mas para proteger
as pessoas."
Declaração de Rasmussen é destinada a
acalmar certo número de membros da OTAN, incluindo a Turquia,
Alemanha e Itália, que publicamente se opõem a qualquer
mudança para armar as forças em Benghazi e que manifestaram
algumas reservas quanto a extensão da campanha de bombardeio
norte-americana. O governo Obama transferiu formalmente o comando
da operação da Líbia para a OTAN, que os
EUA dominam politicamente e militarmente, criando uma estrutura
semelhante à que existe no Afeganistão.
Oficiais norte-americanos e britânicos tomaram a posição
oposta, insistindo que a Resolução da ONU de 17
de março, que autoriza "todos os meios necessários"
para proteger os civis, de alguma forma revoga uma Resolução
de 26 de fevereiro que restringe a introdução de
todas as armas e munições para a Líbia.
"É a nossa interpretação de que [a
Resolução do Conselho de Segurança da ONU]
1973 alterou ou anulou a proibição absoluta de armas
para qualquer um na Líbia, por isso pode haver uma transferência
legítima de armas se um país optar por fazer isso",
disse Clinton na terça-feira.
O Primeiro-Ministro britânico, Cameron, preso no mesmo
script no parlamento na quarta-feira, declarou: "Nossa visão
é que esta [resolução da ONU] não
necessariamente exclui a prestação de assistência
para aqueles que estão protegendo os civis em determinadas
circunstâncias."
Falando em um debate na Casa dos Comuns (House of Commouns
- Câmara dos Deputados inglesa) em 18 de março, um
dia após o Conselho de Segurança ter aprovado a
resolução que autoriza uma zona de restrição
de vôo, Cameron assumiu a posição oposta,
declarando: "A resolução contribui para reforçar
o embargo de armas, e nosso entendimento jurídico é
que esse embargo se aplica a toda a Líbia."
Juristas entrevistados pelo jornal britânico The Guardian
deixaram claro que qualquer outra interpretação
das resoluções da ONU poderia ser baseada apenas
em manobras dolosas. Eles apontam que a resolução
de 17 de março requer a "aplicação estrita"
do embargo de armas aprovado em fevereiro e que a resolução
de fevereiro exige que qualquer violação da proibição
de armas e munições deve receber aprovação
prévia de uma comissão da ONU criada para aplicar
a medida - e não ser realizada de forma unilateral por
um ou outro governo.
Se os EUA avançarem com o armamento das forças
anti-Gaddafi, eles estarão desafiando as Nações
Unidas a fim de conduzir uma guerra ilegal, não menos abertamente
do que Bush fez ao invadir o Iraque.
Uma das questões persistentes que surge em resposta
às propostas para armar os "rebeldes" é
o exato papel desempenhado pela Al-Qaeda e outras forças
islâmicas em suas operações.
O almirante norte-americano, James Stavridis, Comandante Supremo
Aliado da OTAN na Europa, prestando depoimento na audiência
do Senado dos EUA terça-feira consentiu que as agências
de inteligência dos EUA haviam detectado "pistas"
de uma presença da Al-Qaeda dentro da oposição
armada da Líbia.
"Temos visto pistas na inteligência de potencial
da Al-Qaeda, Hezbollah; vimos coisas diferentes", disse o
almirante. "Mas neste momento, eu não tenho detalhes
suficientes para dizer que há uma significativa presença
da Al Qaeda ou de qualquer outra presença terrorista entre
este povo."
Hillary Clinton rebateu uma pergunta semelhante, declarando:
"Nós não sabemos tanto quanto gostaríamos
de saber " sobre os "rebeldes".
O embaixador dos EUA na Líbia, Gene Cretz, admitiu ao
New York Times que não tinha como saber se os "rebeldes"
eram "100% kosher, por assim dizer." E o ex-agente da
CIA, Bruce Riedel, agora um analista da reserva intelectual da
orientação Democrático-Partidária,
a Brookings Institution, admitiu que que eles estavam sujeitos
a esses elementos. Ele disse: "A pergunta que não
posso responder é a seguinte: Eles são 2 % da oposição?
São 20%? Ou eles são 80 %? "
Analistas de inteligência dos EUA reconheceram que os
membros do Grupo de Combate Islâmico da Líbia estão
tendo um papel importante na tentativa de expulsar Gaddafi. A
organização foi fundada por veteranos líbios
da guerra anti-soviética no Afeganistão e foi colocada
em uma lista de grupos afiliados com os talibãs, após
11 de setembro.
Correspondentes da Newsweek no Afeganistão e no Paquistão,
Ron Moreau e Sami Yousafzai, noticiaram ns quarta-feira que "cerca
de 200 líbios ou mais que operam perto da fronteira afegã
podem estar a caminho de casa para dirigir a revolução
anti-Gaddafi a uma direção mais islâmica."
Entre eles, diz o relatório, está Abu Yahya al-Libi,
que é, na Al-Qaeda, o "ideólogo sênior
islâmico e cabeça de Bin Laden nas operações
no Afeganistão." Se Yahya está atingindo com
sucesso o leste da Líbia, acrescentou, "ele vai ser
capaz de operar com relativa liberdade, sem se preocupar com a
polícia secreta de Khadafi ".
Se a intervenção da Líbia demonstrou alguma
coisa, foi a fraude da, chamada por Washington, guerra contra
o terrorismo mundial. Na sua tentativa de derrubar Gaddafi e instalar
um Estado fantoche dos EUA na Líbia, a CIA e o Pentágono
estão aliados com a Al Qaeda contra um regime que tinha
colocado seu serviço secreto à disposição
da CIA para combater o movimento islâmico.
Gaddafi tentou de maneira oportunista dissuadir os EUA e outras
potências ocidentais de atacá-lo, apontando para
o papel dos islamitas entre os rebeldes, mas não adiantou.
Os laços da CIA com Osama bin Laden e a Al Qaeda precedem
aqueles feitos com o ditador líbio. Ela há muito
tempo vê o movimento terrorista como uma ferramenta útil,
em primeiro lugar para atacar os soviéticos, em seguida,
para fornecer um pretexto para as guerras no Afeganistão
e no Iraque, e agora como soldados na oferta de Washington de
recolonizar um país norte-africano rico em petróleo.
[Traduzido por movimentonn.org]
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