EN
INGLES
Visite el sitio inglés
actualizado a diario
pulsando:
www.wsws.org
Análisis
Actuales
Sobre
el WSWS
Sobre
el CICI
|
|
WSWS : Portuguese
A guerra na Líbia e o aprofundamento do conflito interimperialista
Por Alex Lantier e David North
21 de abril de 2011
Utilice
esta versión para imprimir |
Comunicar-se
com o autor
A declaração conjunta sobre a Líbia divulgada
na última quinta-feira pelo presidente dos EUA, Barack
Obama, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro
britânico, David Cameron, não só acirra a
guerra como intensifica as divisões dentro da Europa que
estão por trás da operação neocolonial
no norte da África. Enquanto a guerra é vendida
como um empreendimento humanitário, pouca ou
nenhuma atenção é dada - ao menos publicamente
- à disputa cada vez mais amarga entre França, Grã-Bretanha
e Estados Unidos, de um lado, e, do outro, Alemanha.
A característica mais marcante da declaração
conjunta é o fato de não ter sido feita pela União
Europeia ou pela OTAN. Do contrário, a declaração
apareceu em francês e inglês, sob autoria do presidente
Sarkozy, do premiê britânico Cameron e do presidente
americano Obama, não incluindo a assinatura da chanceler
alemã, Angela Merkel, cujo governo havia se abstido anteriormente
na resolução que autorizava o primeiro ataque à
Líbia. E, no entanto, essa declaração expande
consideravelmente os objetivos de guerra das potências participantes
- desde a defesa aos civis à política de troca de
regime na Líbia. Intitulada O bombardeio prossegue
até a saída de Gaddafi, e publicada no Washington
Post, no Times de Londres, no Le Figaro, no International Herald
Tribune e no al-Hayat, a declaração proclama que
é impossível imaginar um futuro para a Líbia
com Gaddafi no poder. O texto despreza qualquer outro desfecho
para o conflito como uma traição.
O distanciamento entre a Alemanha e a França é
de maior importância, uma vez que os dois países
cumpriram historicamente papel principal na criação
do cenário político do pós Segunda Guerra
na Europa e são as maiores economias que usam o Euro, a
moeda comum europeia.
Embora muitos observadores expressaram surpresa em relação
à abstenção do governo alemão na votação
do mês passado, ela foi uma sequência lógica
das diferenças que haviam se expressado anteriormente,
quando a Alemanha se opôs aos esforços de Sarkozy
de construir uma união mediterrânea (UM) dominada
pela França. Sarkozy propôs pela primeira vez criar
a organização durante sua campanha eleitoral de
2007.
Berlim criticou a proposta como sendo uma iniciativa independente,
feita por fora de um contexto europeu e concebida nos interesses
da França. Como foi delineada a princípio, teria
incluído apenas países com costa mediterrânea
- excluindo a Alemanha, Grã Bretanha e Escandinávia,
teria providenciado subsídios financeiros e um fórum
privilegiado para as negociatas da França, não apenas
com suas ex-colônias na Tunísia, Argélia e
Marrocos, mas também com parceiros comerciais chaves da
Alemanha na Turquia e nos Bálcãs.
Sarkozy calculou que a nova união iria ampliar a influência
estratégica da França ao mesmo tempo em que produziria
enormes lucros sobre as costas dos trabalhadores do Mediterrâneo
europeu e árabe. Enquanto os déficits comerciais
da França com a Alemanha aumentavam, economistas e políticos
franceses esperavam que esses planos de UM ajudariam a França
a implementar políticas de colaboração industrial
e de terceirização com os países mediterrâneos
e ajudá-los a competir com empresas alemãs.
O estamento político do Norte Europeu opôs-se
aos planos de Sarkozy de jogar milhões frescos no
mar em direção ao sul, nas palavras do jornal
suíço Neue Zürcher Zeitung. Merkel persuadiu
Sarkozy a deixar todos os países da UE adentrar a UM em
março de 2008.
Na edição de março do Mediterranean Politics,
Tobias Schumacher do Instituto Universitário de Lisboa
explicou as objeções alemãs:
Merkel argumentou que a criação de uma
UM que incluísse apenas países de costa mediterrânea
teria o potencial de colocar em movimento forças gravitacionais
dentro da UE que poderiam gerar um processo de fragmentação
e, eventualmente, desintegração. Ela lembrou Sarkozy,
e assim todos os outros governos da UE, que o uso de fundos da
UE para fins exclusivamente nacionais não poderia ser justificado.
Muito ciente de que esses argumentos causariam preocupações
nos governos de outros membros da UE, ela mal perdeu ocasião
de dar seu recado, com o fim de aproximar percepções
potencialmente diferentes entre si e assim sinalizar a outros
países com potencial de veto que a Alemanha estava determinada
a se opor a qualquer proposta baseada na exclusão de alguns
membros da UE. Obviamente, essa estratégia foi pensada
na intenção de fazer Merkel aparecer como defensora
do bem comum, i. e., da própria existência
da integração europeia e da UE. Por outro lado,
as razões por trás dessa estratégia eram
as de prevenir a França de se transformar a primus inter
pares em questões de política exterior e assim subestimar
o papel da Alemanha como ator principal dentro da UE e fazer ressurgir
ambições coloniais da França.
Sintomaticamente, Gaddafi foi outro opositor assumido dos planos
de Sarkozy sobre a UM. Ele chamou a iniciativa de um insulto
que os estavam tratando como bobos e insistiu que
as potências europeias consultem Cairo e Addis Abeba,
a sede da Liga Árabe e da União Africana, respectivamente.
Aparentemente prevendo os grandes interesses e perigos envolvidos
em tais planos, Gaddafi voltou atrás nos planos de compras
multibilionárias de jatos franceses Rafale. Isso inflamou
ainda mais os ânimos do governo francês, que estava
desesperado para vender os aviões.
Depois do colapso hipotecário americano, os descompassos
financeiros dentro da Europa levaram a uma crise de dívida
que começou na Grécia em 2009. As tensões
aumentaram quando potências europeias guerrearam acerca
de políticas econômicas e concessões a seus
respectivos bancos. Após um encontro em maio passado, no
qual Sarkozy teria ameaçado a retirar a França do
Euro a fim de forçar a Alemanha a contribuir para o fundo
de resgate, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude
Trichet disse que a Europa se encontrava diante da situação
mais complicada desde a Segunda Guerra Mundial.
A pesar do desgosto francês perante a derrubada do regime
de Ben Ali na Tunísia em janeiro, a tensão contínua
no Egito e ao redor do Oriente Médio deu a Sarkozy uma
oportunidade. Ele se agarrou às revoltas na Líbia
como um meio de avançar os mesmos interesses franceses
no Norte da África que haviam sido antes bloqueados pela
Alemanha. No dia 10 de março, Sarkozy se tornou o primeiro
líder de Estado a reconhecer o Conselho de Transição
Nacional com base em Benghazi como o governo líbio, em
seguida pressionando uma resolução do Conselho de
Segurança da ONU para autorizá-lo a entrar em guerra
com Gaddafi.
Enquanto jogava esse jogo, Sarkozy sabia que ele poderia contar
com a fraternidade de partidos da pseudoesquerda, como o Partido
Socialista, o Novo Partido Anticapitalista e as organizações
ambientalistas para beatificar uma guerra imperialista enquanto
um exercício humanitário da proteção
da vida de civis. Com sua típica combinação
de trapaça e estupidez, esses partidos obedeceram, expondo
seu papel de engrenagem na máquina de propaganda imperialista.
É difícil acreditar, porém, que os governos
ocidentais possam ter sido tão cegos em relação
às implicações históricas mais amplas
de suas ações. Por sua vez, a Grã-Bretanha
encorajou as ambições de Sarkozy a fim de desvencilhar
a França de seus laços com a Alemanha e subestimar
a influência política desta. Washington, ao consentir
com o ataque francês à Líbia, calcula que
não deverá enfrentar oposições da
França a futuras incursões militares americanas.
A frente comum que o ex-secretário de defesa, Rumsfeld,
satirizava como Velha Europa se quebrou. Porém,
isso não significa que Obama refletiu até o fim
sobre as implicações de seu apoio aos planos de
Sarkozy. Ao participar de uma guerra publicamente rejeitada por
Berlim, Washington fez tudo menos repudiar sua política
de longas décadas de manutenção da unidade
política e militar da Europa Ocidental. Está exacerbando
tensões intraeuropeias em um continente já despedaçado
por conflitos sobre políticas econômicas. Como aconteceu
no passado, a Alemanha - temendo que seria manobrada e isolada
por seus adversários históricos - buscará
outros meios de proteger seus interesses. Mais uma vez, Washington
desencadeou eventos que terão consequências desastrosas.
A guerra na Líbia é apenas mais uma jogada no
tabuleiro de xadrez imperialista. Porém, aqueles que agora
conduzem a guerra não jogam com peças de madeira,
mas com a vida de milhares de pessoas na Líbia e ao redor
do mundo. Com este impacto de longo alcance na estabilidade geopolítica
da ordem capitalista internacional, a guerra prepara o terreno
para conflitos cada vez maiores e devastadores.
[Traduzido por movimentonn.org]
Regresar a la parte superior de la página
Copyright 1998-2012
World Socialist Web Site
All rights reserved |