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As lições políticas da Grécia
Por Stefan Steinberg
12 de julho de 2011
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Em meio a intensas pressões dos bancos internacionais
e da União Europeia, na semana passada, o parlamento grego
aprovou um novo pacote de medidas de austeridade, projetado pelo
governo do Primeiro Ministro George Papandreou do PASOK. Esse
último ataque contra os padrões de vida e direitos
sociais dos trabalhadores gregos servirá como um parâmetro
global, com consequências devastadoras para a classe trabalhadora
europeia e internacional.
O estado de bem-estar social europeu será despedaçado
para regularizar as folhas de balanço dos bancos europeus
e internacionais. Uma demanda central dos bancos incorporados
ao novo pacote de austeridade é a privatização
de indústrias e empresas estatais. Serviços públicos
elementares - aquecimento, luz, telecomunicações
- serão repassados às companhias privadas para se
tornarem uma nova fonte de lucro corporativo.??
As implicações profundamente retrógradas
dessa política foram sugeridas ao longo do fim de semana
pelo chefe dos ministros de finança da zona do euro, Jean-Claude
Juncker. Ele disse à revista alemã Focus que era
necessário tirar o controle sobre o processo de privatização
das mãos do governo grego, defendendo a formação
de uma agência, como a alemã Treuhand, responsável
por vender os bens estatais gregos.
O plano envolveria o despacho de economistas especializados
da Europa para organizar o programa de privatização
mais eficiente (ou seja, lucrativo) possível. Como resultado,
disse Juncker, "A soberania da Grécia será
severamente limitada".
A Treuhand foi estabelecida pelo governo alemão em 1990
para supervisionar a desindustrialização da Alemanha
Oriental após o colapso dos regimes stalinistas do leste
europeu. Essa operação de pilhagem foi o passo inicial
na restauração das relações capitalistas
de mercado.
De 1990 a 1994, A Treuhand organizou a venda - e na maior parte
dos casos, a falência - de nada menos que 12 mil empresas
do leste europeu. Essas companhias, que empregavam 4 milhões
de trabalhadores quando a Treuhand assumiu o controle, contavam
somente com 1,5 milhões quando a Treuhand cessou suas operações.
Sucessivos governos do país reunificado aproveitaram
a devastação social no leste para quebrar as estruturas
contratuais tradicionais e rebaixar os salários no oeste,
capitalizando sobre a massa de mão-de-obra barata que fluía
do leste. Duas décadas depois, as províncias alemãs
do leste, substancialmente despovoadas, ainda possuem taxas de
desemprego e condições de vida significativamente
piores que as de suas contrapartes no lado oeste.
A aplicação de políticas similares na
Grécia, um país com menos recursos econômicos,
envolto na pior crise do capitalismo mundial desde a década
de 1930, teria consequências ainda mais desastrosas.
As propostas de Juncker equivalem a impor à Grécia
uma situação quase que colonial nas mãos
de oficiais financeiros não-eleitos, trabalhando em sincronia
com a classe dominante grega e respondendo somente aos bancos
e às grandes potências imperialistas. A burguesia
grega está discutindo medidas drásticas que seriam
parte de tal política, incluindo planos para mudar a constituição
de forma a permitir a demissão de servidores públicos
que trabalham em tempo integral e uma reforma radical do código
fiscal grego para beneficiar os ricos.
Uma ditadura dos bancos está sendo estabelecida na Grécia
como modelo para toda a Europa e além dela. Isso ocorre
apesar do fato de não ter havido falta de lutas militantes
pelos trabalhadores gregos no último ano.
Como tem sido possível avançar nesse assalto
diante da oposição da grande maioria do povo grego?
Que lições precisam ser tiradas dessa experiência
para permitir que a classe trabalhadora barre e derrote a ofensiva
contrarrevolucionária da burguesia?
É preciso delinear um balanço das políticas
dos sindicatos e dos partidos pseudoesquerdistas de classe média.
Essas forças trabalham para defender o sistema capitalista
contra a ameaça de uma revolução da classe
trabalhadora.
No ultimo ano e meio os sindicatos, que em sua maioria são
dirigidos pelo PASOK, organizaram diversos atos com apoio total
das organizações de esquerda pequeno-burguesas.
O objetivo declarado das 15 greves gerais de um dia e de outros
atos era o de pressionar o PASOK a mudar o rumo. Qualquer outra
luta política de massas que fosse na direção
de derrubar o governo burguês do PASOK foi veementemente
negada tanto pelos sindicatos quanto pelas organizações
pseudossocialistas. Foi assim que essas forças trabalharam
conscientemente para desgastar e desmoralizar a oposição
da classe trabalhadora aos cortes.
Organizações como a SYRIZA e ANTARSYA refletem
os pontos de vista e políticas das forças de classe
média que nos anos 1960 lideraram os movimentos contra
a guerra e que, ao longo das décadas posteriores, deram
um grande passo à direita. Muitas de suas lideranças
e membros assumiram postos bem-remunerados nas universidades,
na mídia, nos sindicatos e no Estado. Hoje eles representam
os interesses de uma camada privilegiada da alta classe média.
Na medida em que os trabalhadores se radicalizam politicamente,
eles oferecem à classe dominante seus conhecimentos e experiências
enquanto antigos opositores do socialismo revolucionário
para desorientar a classe trabalhadora.
Após um ano e meio de cortes nas mãos de Papandreau,
há uma revolta crescente na classe trabalhadora tanto contra
o governo, quanto contra os sindicatos. Para, precisamente, dirigir
o desenvolvimento de um movimento político independente
da classe trabalhadora e fora do controle dos sindicatos, SYRIZA
e ANTARSYA lideraram os protestos dos chamados "indignados"
na Grécia, que se baseava, na superada palavra de ordem
"contra a política" - isto é, na continuidade
da dominação política burguesa.
Na busca desse objetivo reacionário, eles trabalharam
lado a lado com a extrema-direita assumida, forças nacionalistas
que protestavam na praça Syntagma em Atenas. Assim eles
ajudaram a promover a perspectiva nacionalista de deixar a zona
do Euro e retornar ao dracma, antiga moeda grega. Caso a burguesia
grega adotasse tal política, seria apenas para empobrecer
ainda mais os trabalhadores com uma hiperinflação.
A única resposta progressista à pilhagem da economia
grega pela classe dominante é a unificação
da classe trabalhadora de toda a Europa e do mundo em uma luta
contra a aristocracia financeira, baseando-se em um programa socialista.
Essa é a estratégia central dos Estados Unidos Socialistas
da Europa.
O primeiro e indispensável passo na luta por essa perspectiva
revolucionária consiste em os trabalhadores romperem com
os fantasmas sindicais e construir novas formas de organização
democráticas e populares de luta da classe operária
- como comitês de fábricas, locais de trabalho e
bairros - para mobilizar a classe contra o governo e o sistema
capitalista.
Essa batalha requer uma luta implacável contra as organizações
de pseudoesquerda e as tendências stalinistas e pablistas
que as compõem. Tal luta é indispensável
ao desenvolvimento da consciência política da classe
trabalhadora e do estabelecimento de sua independência política
de todos os setores da burguesia.
A luta pelo socialismo na Europa só pode ser conduzida
em aliança com os trabalhadores da América e de
todo o mundo. Em sua essência, esses cortes perpetrados
pelo governo socialdemocrata na Grécia não são
diferentes daqueles planejados pelo governo Obama nos Estados
Unidos ou por aqueles dos governos de estado, como os cortes no
Wisconsin que provocaram protestos de massa no último inverno.
O desenrolar dos acontecimentos na Grécia só reforça
a necessidade de expandir a influência do Site Socialista
de Interligação Mundial e de construir seções
do Comitê Internacional da Quarta Internacional por toda
a Europa.
(Traduzido
por movimentonn.org)
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