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Bancos garantem interesses à custa da Grécia
Por Stefan Steinberg
06 de julho de 2011
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No início da semana pasada, as agências de notícia
anunciaram que os bancos haviam proposto um plano "radical"
para auxiliar na resolução da crise da dívida
grega. Em Paris o presidente Nicolas Sarkozy disse em uma conferência
de imprensa que o plano envolveria prorrogar os empréstimos
bancários à Grécia por um período
maior do que 30 anos. A proposta destinava-se a aliviar a crise
grega e estabelecer um sistema que, de acordo com o presidente
francês, "cada país pudesse achar atraente".
Os mercados de ações europeus e ao redor do mundo
reagiram positivamente à proposta atingindo grandes aumentos
no dia seguinte, principalmente no setor bancário.
Os bancos alemães também demonstraram interesse
no "modelo francês". O presidente do Deutsche
Bank, Josef Ackerman, sugeriu que sua instituição
estaria preparada para seguir o exemplo, ao mesmo tempo que pediu
atenção: "Os líderes políticos
esperam uma solução até o fim da semana,
mas não podemos apressá-la".
De fato, o lançamento do plano no início da semana
foi obviamente calculado para enviar os sinais corretos aos mercados
financeiros, ao mesmo tempo que influenciavam o debate no parlamento
grego sobre uma nova rodada de medidas de austeridade devastadoras.
A proposta francesa e as indicações de apoio alemão
permitiram que apoiadores do governo Papandreau argumentassem
que os bancos franceses e alemães estavam preparados para
fazer sua parte para aliviar a crise de dívida do país.
Os atores alemães dessa farsa apareceram juntos pontualmente
em uma conferência na quarta-feira em Berlim, coincidindo
com a primeira votação das novas medidas de austeridade
no parlamento grego. Em Berlim, Ackerman ficou ao lado da Chanceler
Angela Merkel e anunciou que as instituições financeiras
alemãs também estavam fazer sua parte para evitar
o "derretimento" dos mercados financeiros.
Após a votação majoritária a favor
do orçamento de austeridade na quarta-feira, o parlamento
grego realizou uma segunda votação um dia depois
para assegurar a implementação das medidas. Coincidindo
com a segunda votação, o ministro alemão
das finanças, Wolfgang Schäuble, apareceu ao lado
de Ackermann e disse a jornalistas que os bancos alemães
também estavam preparados para apoiar propostas de "rolagem",
isto é, uma extensão à dívida grega.
Na mesma conferência Ackermann declarou: "Estamos
convencidos de que a Grécia deve obter mais ajuda... Tomaremos
a ordem de pagamento francesa como uma base, mas faremos modificações
e estamos confiantes de que encontraremos uma solução
que dará respostas satisfatórias a todos os participantes".
De acordo com a proposta preliminar anunciada na quinta-feira,
os bancos alemães contribuirão com um total de
3,2 bilhões (US$ 4,6 bilhões)para um segundo pacote
de resgate à Grécia.
Após a segunda votação majoritária
a favor das medidas de austeridade, alguns comentadores financeiros
e da mídia deram uma olhada mais de perto e mais sóbria
nas propostas francesa e alemã.
Antes da terça-feira, o Financial Times havia advertido
em um editorial que a proposta francesa oferecia mais fumaça
e espelhos do que substância. O editorial defendeu que a
proposta de rolagem francesa era extraordinariamente complexa,
querendo dizer que "é impossível explicá-la
aos eleitores, mas sem dúvida será ostentada como
prova de que os especuladores estão sendo criticados".
Ressaltando as vantagens do plano aos banqueiros, o editorial
declara que o plano "parece pensado menos para tornar a situação
da Grécia mais sustentável do que ajudar os bancos
a removerem os riscos de seus balancetes".
No portal online alemão Die Zeit, o jornalista financeiro
Marl Schieritz concluiu que a proposta francesa faria pouco para
resolver os problemas de solvência da economia grega. Essa
é uma solução que só compra tempo
para os bancos, argumenta, que tornará ainda mais difícil
para a Grécia ganhar acesso aos mercados financeiros. Como
uma proposta de ajuda à Grécia, Schieritz conclui,
ela está "fatalmente equivocada".
Enquanto isso, detalhes foram revelados em relação
à generosidade dos bancos alemães. Foi relatado
que cerca de dois terços da soma de 3,2 bilhões
a ser levantada pelo lado alemão virão do parcialmente
nacionalizado Commerzbank e dos "bad banks" organizados
pelo governo alemão após a crise financeira de 2008.
De propriedade total (HRE e WestLB) ou parcial (Commerzbank) do
Estado, qualquer cancelamento de dívidas assumido por esses
bancos será inevitavelmente pago pelo dinheiro do contribuinte.
De acordo com fontes internas, a contribuição
feita pelo Deutsche Bank a esse total de 3,2 bilhões de
euros é de menos de 1 bilhão. O Deutsche
Bank anunciou lucros de 3,5 bilhões no primeiro
trimestre deste ano, e Ackermann anunciou que o banco pretende
ter um lucro total de 10 bilhões pelo ano operacional
de 2011.
Isso significa que a "contribuição"
do Deutsche Bank ao resgate da Grécia, que agora acumula
uma dívida total de mais de 300 bilhões,
será de menos de um décimo dos lucros esperados
pelo banco este ano. De fato é provável que os bancos
alemães privados irão tirar dinheiro desse negócio.
Em seu comentário à proposta alemã o Financial
Times Deutschland conclui: "Deixando de lado a contribuição
dos bad Banks, todos os bancos restantes estão contribuindo
com a soma de 2 bilhões de euros. Levando em conta as somas
totais dos balancetes das instituições financeiras,
isso de fato significa migalhas. De fato serão os países
do Euro que irão mais uma vez carregar o fardo principal.
Eles garantem que os bancos saiam dessa sem nenhum arranhão
e que possam inclusive contar com uma taxa de juros de 8%".
Um artigo no Süddeutsche Zeitung declara que "o acordo
feito por Wolfganga Schäuble com o setor financeiro na quinta-feira
poderia se provar um bom negócio para os bancos - e um
novo fardo para os gregos". O artigo então prossegue
citando um analista financeiro que descreve a proposta como um
"placebo" que assegurará que "os bancos
não tenham nada a perder".
Desde o começo da crise financeira em 2008, os grandes
bancos e instituições financeiras internacionais
ditam os termos de seus próprios resgates, apresentando
suas condições aos governos ao redor do globo. Hoje
esses bancos grandes estão mais poderosos e influentes
que nunca antes. A subordinação servil dos governos
burgueses aos bancos forçou alguns comentadores a fazer
um alerta sobre os perigos.
Em um ensaio escrito no começo deste mês pela
revista Der Spiegel, Dirk Kurbjuweit aponta que no fim de maio
Ackermann havia se gabado aos acionistas do Deutsche Bank que
o tempo estava maduro para "colher os frutos".
Referindo-se à recusa dos bancos em assumir qualquer
responsabilidade pela crise que eles desataram, Kurbjuweit escreveu:
"Os bancos e firmas de investimento agora cumprem o papel
que uma vez pertenceu aos deuses. Quase ninguém ousa criticá-los,
e o medo de sua ira guia o comportamento dos políticos.
Muitos relutam em falar francamente, enquanto outros buscam abrigo
em mentiras.
Sob tais condições, a democracia perdeu sua dignidade.
E isso é perigoso..."
(Traduzido
por movimentonn.org)
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