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Potências europeias discutem sanções contra
a Síria
Por Jean Shaoul
5 de maio de 2011
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Publicado originalmente em inglês em 1 de maio de
2011
Grã-Bretanha, França, Alemanha e Portugal estão
elaborando uma resolução para o Conselho de Segurança
das Nações Unidas que condena a repressão
do presidente Bashar al-Assad aos protestos da oposição
na Síria. A ação europeia segue o pronunciamento
feito pelo governo Obama nos Estados Unidos de que ele também
está procurando possíveis sanções
contra o governo sírio.
A mudança para uma abordagem mais agressiva contra o
regime de al-Assad pelas principais potências imperialistas
está claramente em curso à medida que tentam explorar
a legítima raiva ao regime brutal para defender seus próprios
interesses geopolíticos na região. A Síria
não possui reservas significativas de óleo e gás,
mas faz fronteira com aliados-chave dos EUA - Iraque, Jordânia,
Turquia, Líbano e Israel - e é aliada do Irã,
do Hezbollah no Líbano, e do Hamas na Palestina.
Os EUA já têm severas sanções em
vigor contra a Síria como um "Estado patrocinador
do terrorismo" sob a legislação feita desde
2003. Mais medidas seriam claramente simbólicas, já
que a Síria tem um mínimo de comércio com
os EUA. Mas a ameaça de sanções por Washington
foi principalmente destinada a pressionar as potências europeias
a seguirem o exemplo. A Síria tem um significativo, embora
em declínio, comércio com a União Europeia,
que representou 25% do seu comércio externo em 2010.
O presidente Nicolas Sarkozy da França, falando após
um encontro com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi,
disse que a França e a Itália estavam pedindo um
fim à violência. Ele disse: "Nós emitimos
um forte apelo às autoridades em Damasco para acabar com
a violenta repressão", acrescentando que a França
não iria intervir na Síria sem uma resolução
do Conselho de Segurança.
O Secretário dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha,
William Hague, disse à Câmara dos Comuns: "Esta
repressão violenta deve parar. O presidente Assad deveria
ordenar que suas autoridades se contenham e deveria atender as
legítimas demandas de seu povo com uma reforma imediata
e genuína, e não com a repressão brutal."
Ele acrescentou que a Grã-Bretanha estava discutindo
com seus aliados da UE e outros a possibilidade de algumas medidas,
incluindo sanções, "que terão um impacto
sobre o regime" se a repressão aos manifestantes continuar.
O Foreign Office, semelhante ao Departamento de Estado dos EUA,
aconselhou os cidadãos britânicos a não viajarem
para a Síria e que aqueles que estão no país
deveriam deixá-lo - um alerta muito mais forte do que para
o Egito, onde mais de 1.800 pessoas foram mortas - para aumentar
a pressão econômica a Damasco.
A postura das potências europeias segue relatos de uma
repressão violenta por parte das forças de segurança
sírias após concessões feitas por al-Assad,
incluindo a elevação da lei de emergência,
que não conseguiram aplacar a oposição. Em
um discurso televisionado, al-Assad deixou claro que a finalidade
dessas concessões foi afastar qualquer "desculpa"
para novas manifestações, uma mensagem clara de
que, apesar da elevação das leis de emergência
em vigor desde 1963, a continuada dissidência não
será tolerada.
Na noite de sábado, o governo enviou o exército
para o sul da cidade de Dera'a e para cidades pobres ao redor
de Damasco. Houve relatos de que 25 pessoas foram mortas e dezenas
ficaram feridas nesta segunda-feira, embora esses números
não tenham sido verificados. Houve também relatos
de buscas por manifestantes de casa em casa e muitas prisões.
As tropas também entraram em Douma e Maadamiya, cidades
pobres na periferia de Damasco. De acordo com o Observatório
Sírio de Direitos Humanos, o exército entrou na
cidade costeira de Jableh, perto de Latakia, no domingo, matando
pelo menos 13 pessoas.
Há afirmações de que centenas de pessoas
estão na prisão após buscas em vários
subúrbios de Damasco e em cidades de todo o país.
A exata escala da repressão é impossível
de se verificar. O governo sírio expulsou os jornalistas
estrangeiros, enquanto muitas fontes de fornecimento dos dados
sobre o número de mortos e presos citados como "grupos
de direitos humanos" ou "militantes" na mídia
ocidental estão longe de serem imparciais. Muitos são
dirigidos por pessoas com laços estreitos com a Irmandade
Muçulmana e regimes sunitas hostis ao regime de al-Assad
Alawite e seus laços com o Irão xiita, incluindo
a Arábia Saudita e o Qatar, bem como as forças no
Líbano. O alauítas são uma seita xiita minoritária
que compõem cerca de 15% da população da
Síria.
Um bom número dos porta-vozes mais influentes da oposição
estão intimamente associados com Washington e várias
capitais europeias. Eles estão tentando mudar a política
ocidental de "engajamento" com Damasco para um confronto
com o regime de al-Assad. Washington financiou uma série
de grupos dissidentes da Síria, através do seu Middle
East Partnership Initiative (Iniciativa de Parceria entre os Estados
Unidos e o Oriente Médio) e patrocinou o grupo Declaração
de Damasco, uma coligação de partidos de oposição
da Síria, incluindo a Irmandade Muçulmana.
Websites sociais, como o Syrian Revolution 2011, que alegam
ter 120 mil seguidores, têm desempenhado um papel destacado
na convocação dos protestos e na postagem de notícias
da agitação. De acordo com o Syria Comment, o site
do acadêmico norte-americano, Joshua Landis, o Syrian Revolution
2011 está localizado na Suécia e é dirigido
pelo chefe do capítulo da Irmandade Muçulmana de
lá. Ali Bayanouni, o chefe da Irmandade Muçulmana
na Síria, é apoiado pela Arábia Saudita.
Ayman Abdalnour, outro opositor sírio que dirige o site
all4syria.org, foi para Israel para um encontro com a inteligência
israelense, militares e líderes políticos organizados
por Muhammad Dahlan, o chefe de segurança da Autoridade
Palestina na Faixa de Gaza, que estaria ajudando Israel a fazer
contato com membros da oposição na Síria.
O primeiro-ministro libanês em exercício, Saad
Hariri, e seu Movimento Futuro, apoiado pelos EUA e pela Arábia
Saudita, também estão preparados para usar a Irmandade
Muçulmana para favorecer seus interesses e seus patrocinadores
na região.
Casos publicados pelo WikiLeaks revelaram que o Departamento
de Estado dos EUA financiou um grupo islâmico, o Movimento
por Justiça e Desenvolvimento, semelhante ao partido governante
da Turquia com o mesmo nome, criado por exilados sírios,
em Londres. Isso foi usado para montar a Barada TV e financiar
outras atividades na Síria. As forças da oposição
também foram capazes de contrabandear telefones via satélite
e equipamentos eletrônicos para reforçar seus ativistas
na Síria. De acordo com um relatório da agência
AFP, os EUA estão patrocinando os esforços para
ajudar os ativistas árabes e de outros países a
ganhar acesso à tecnologia que ultrapassa firewalls do
governo, assegura mensagens de texto e de voz, e impede ataques
em sites.
Há poucos dias atrás, Ghassan Ben Jeddo, um jornalista
da TV Al-Jazeera, demitiu-se em parte devido à "falta
de profissionalismo e objetividade" da rede para a cobertura
da revolução em curso nos países do Oriente
Médio, incluindo a Síria, Iêmen e Bahrein,
de acordo com uma reportagem do jornal libanês As-Safir.
O canal por satélite de Doha, que é mantido no
ar por meio de empréstimos do governante do Catar, lançou
uma campanha contra o governo da Síria e transformou o
canal em "um canal de propaganda", reclamou Jeddo. Enquanto
a rede cobria os acontecimentos na Líbia, Síria
e Iêmen, ela quase não mencionou o derramamento de
sangue no Bahrein.
Isto está em conformidade com o apoio do regime do Qatar
ao movimento pan-árabe de sunitas contra xiitas e seu apoio
à política mais ampla de Washington - particularmente
associada aos neocons - contra o "eixo xiita" do Irã,
a Síria e o Hezbollah no Líbano.
Um comunicado oficial do governo Assad disse que a Ordem dos
Advogados da Síria pediu uma comissão jurídica
para estudar o que foi descrito como a falsificação
de mídia por um número de estações
de televisão árabes e internacionais e indivíduos,
bem como "atos de instigação" destinados
a desestabilizar a Síria.
Até agora, nenhuma das grandes potências adotou
a exigência de mudança de regime como o fizeram na
Líbia, mas existem pedidos significativos para uma mudança
de curso que está sendo feito nos EUA.
Elliott Abrams, que serviu sob o governo republicano dos presidentes
Ronald Reagan e George W. Bush e foi condenado em 1991 por acusações
decorrentes do escandaloso Caso Irã-Contras da década
de 1980, foi chamado no mês passado, nas páginas
do Washington Post, para uma campanha maciça contra a Síria.
Em um artigo de opinião de 25 de março, que foi
aprovado editorialmente pelo Post, Abrams escreveu: "O desaparecimento
deste clã assassino é do interesse da América
... um governo dominado pela maioria sunitas da Síria -
o clã Assad é da minoria alauíta - nunca
teria as estreitas relações com o Hezbollah e com
o Irã que Assad mantém; ele procura se reintegrar
no mundo árabe. O Irã vai perder o seu aliado árabe
mais próximo, e sua ponte de terra para o Hezbollah, quando
Assad cair".
Abrams citou cinco medidas a serem aplicadas contra a Síria:
a administração Obama e todos aqueles que apoiaram
o "engajamento " para Damasco, devem denunciar a Síria;
as grandes potências deveriam processar a Síria em
todos os fóruns multilaterais disponíveis; eles
devem pedir ao Egito e à Tunísia para convocar a
Liga Árabe para expulsar a Síria assim como a Líbia;
os europeus devem aplicar sanções contra a Síria;
e os EUA devem retirar seu embaixador da Síria.
Abrams não chegou a pedir para os EUA derrubarem o regime
de al-Assad. Isso, segundo ele, foi a tarefa do povo sírio.
Com os europeus agora falando de sanções contra
a Síria, parece que Abrams já garantiu duas de suas
cinco reivindicações.
O senador republicano John McCain e o senador independente
Joe Lieberman também pediram um fim aos esforços
para envolver Damasco, o qual tinha "pouco a mostrar para
ele." Em março, Lieberman disse à Fox News
que o envolvimento dos EUA na Líbia era "um envio
de mensagem" para al-Assad, na Síria.
"A minha esperança é que a forte posição
que a comunidade internacional tomou na Líbia envia uma
mensagem muito clara para outros regimes autoritários ou
totalitários no Oriente Médio", disse ele.
"E se a sua resposta à revolta do seu povo é
matá-los, você corre o risco de que a comunidade
mundial entre e faça para você e seu país,
o que estamos fazendo agora para Kadafi e Líbia."
Este aviso foi "particularmente relevante para Assad na
Síria", advertiu.
[Traduzido
por movimentonn.org]
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